O caso do ônibus 911.

- Calma, agora não tem mais jeito. Vamos relaxar e olhar a paisagem – foi o que disse a avó à neta e ao bisneto ao perceberem que estavam no ônibus errado.

Era uma viagem curta de uma cidade a outra e a intenção era utilizar apenas uma linha de ônibus. Mas, devido a distrações, embarcaram no ônibus errado. Isso provocou um hostil nervosismo na neta, que bradava a todos sua insatisfação modorrenta:

- Vó, não fala comigo que não estou pra conversa! Já não sei mais o que fazer.

E a velhinha insistia, com uma doçura de dar inveja:

- Se o ônibus mudou a placa, que culpa temos nós. Pergunta ao chofer se ele vai voltar por São Vicente, que aí permanecemos aqui. Vamos aproveitar para conhecer mais um lugar.

E a viagem transcorreu daquele jeito: a jovem nervosa e desastrosa em suas torturantes palavras. A velhinha, serena como uma criança que acaba de nascer. Era possível ler em seu semblante a alegria de que desfrutava, brotada de um erro, mesmo estando com a saúde debilitada. Já a neta, em alta saúde, apresentava um rosto horrendo e obscuro por causa do erro cometido, causador de fatal atraso.

E o bisneto assistia a tudo. Em alguns momentos até tentou intervir, questionando sobre o itinerário que o coletivo estava tomando, mas era prontamente interrompido pela sabedoria da mãe, que o inibia preponderantemente.

No fim das contas, desceram em Cubatão, onde tomaram outro ônibus que os deixaria no lugar de destino.

No ônibus permaneceu o silencio, fruto da reflexão que cada passageiro fazia da situação.

Às vezes a idade nos dá condições de gozar melhor os frutos que os erros nos dão. Ser preciso, exato, concreto é qualidade dos que pouco conseguem vivenciar as delicias do erro.

E o bisneto, como será? Está entre a cruz a espada. Tomara que saiba desfrutar dos erros.

Thiago Sobral
Enviado por Thiago Sobral em 25/08/2013
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