Ação involuntária
 
Dia desses, eu me surpreendi com um dos serviços habilitados pelo meu provedor de e-mails. Ele dizia que Laila era o meu contato frequente. Estranhei a principio, posto que há muito tempo venho rareando a presença de Laila em meus versos. Além do mais, sou uma pessoa de poucos amigos e de poucos e-mails. Haja vista a gama de meus remetentes é de colecionadores de contatos nas redes sociais e de analistas de perfil que navegam em busca de uma oportunidade de negócio, golpe ou algum tipo de vantagem financeira.
Ao clicar para escrever uma nova mensagem - coisa rara - lá estava o aviso, gritante como uma denuncia. Laila era a unica da lista. Meu contato frequente.
Espantado, eu comecei a me perguntar se o meu provedor de e-mails estaria captando os meus pensamentos. Quem sabe eu não estivesse externando, de forma inconsciente, o meu desejo constante da presença de Laila, e manifestando involuntariamente a minha "convivência" diária com a minha eterna companheira, bem ao modo dos cartazes afixados nos veículos rastreados por satélite: "... ação independe do motorista".
É bem verdade que, ultimamente, eu tenho me comportado com um membro de "Alcoólatras Anônimos": "... só por hoje..." eu não vou pensar em Laila, não vou ligar para ela, nem mencioná-la em meus versos.
Esforço inútil. Laila, volta e meia, ri das minhas piadas, solta uma gargalhada gostosa e prende a minha atenção com os seus argumentos nas nossas conversas imaginárias.
Laila é, sim, contato frequente nas minhas divagações. Ela vive nas minhas lembranças, dividendos de situações reais, que como os bacilos do iogurte, fermentam e se proliferam na minha imaginação.
Pensar em Laila é uma ação é involuntária. É inevitável, a cada dia. Estaria eu enviando e-mails, inconscientemente, para o meu "contato frequente"? Sabe-se lá! Só vou deixar de pensar em Laila quando eu morrer. Quando eu morrer, Laila morre. Até lá, vou continuar pensando em Laila, como um motorista de um veículo rastreado por satélite: ".... a ação independe...".