NOS TEMPOS DA BRILHANTINA

Ontem, sábado, fui com minha mulher ao “Minashopping” para dar um bordejo e efetuar pequenas compras, aproveitando o frescor da bela tarde que se prenunciava.

Após bater as pernas pelas lojas, apreciar as vitrines chamativas e curtir o festivo ambiente do local saímos com algumas sacolas e aí percebemos um clima estranho e diferente no ar. Pessoas meio que desesperadas tentavam ingressar no “shopping” e nós, que estávamos dentro, tentávamos sair sem atinar com o motivo do tumulto. Aos empurrões, chegamos na área externa e notamos os seguranças alarmados, enquanto a Polícia Militar chegava com suas viaturas cercando o local. Aí tomamos ciência do que ocorria:- era mais um clima de terror que se instalava, pois jovens arruaceiros vinham da Estação de Venda Nova para a do “Minashopping”, pelo metrô, para efetuar um arrastão combinado entre eles pelo “facebook”, pode?

Algumas senhoras nervosas, crianças assustadíssimas, homens tensos, idosos apavorados, a coisa começava a ficar preta. Célere, tomamos nosso carro e fui avançando, seguindo orientação dos seguranças para uma saída rápida por uma lateral do “shopping”, fugindo das cancelas habituais, todas atravancadas de veículos, onde não se adiantava e não se recuava também.

Fora de lá, peguei a Avenida Cristiano Machado e uns dez minutos depois já estava alcançando o nosso prédio na Cidade Nova, onde nos acalmamos e ligamos a “TV” para saber dos acontecimentos. E as imagens que vimos só fizeram aumentar as nossas preocupações com o momento atual pelo qual atravessa o país todo, uma baderna organizada, uma sensação de impunidade, de tolerância e de incompetência das autoridades a quem cabe defender a segurança pública. Alguns jovens, desembarcando do metrô, foram apanhados com mochilas cheias de pedras, cigarrinhos de maconha, pedrinhas de “crack”e um deles até portava um revólver calibre 38, carregado. Tiveram seu material apreendido, mas foram liberados em seguida. Pode?...

E aí foi que eu voltei no tempo e no espaço, lembrando dos meus tempos de rapazinho, lá pelos anos 50, 60, quando Belo Horizonte ainda era chamada de “roça grande”, pois era metrópole com ares de cidade do interior, terra de gente pacata e ordeira. Até a famosa zona boêmia, quadrilátero das Ruas Curitiba, Guaicurus, São Paulo a adjacências, era um lugar onde se respeitavam certas regras e a polícia marcava sua presença. Eu estava, certa ocasião, indo de ônibus para o centro quando um senhor sessentão, de pé ao meu lado, conversava com outro passageiro, falando sobre esse momento de insegurança nacional que estamos vivenciando. Dizia ele:-

“- Amigo, os tempos são outros. Lembro-me que certa vez, quando jovem, botei um terno branco e fui tomar uma cerveja em plena zona boêmia, bem ali na Rua Guaicurus, num bar que ficava ao lado do “Maravilhoso Hotel” (lugar onde a “Hilda Furacão” foi morar, após sair da igreja vestida de noiva, conforme narrou Roberto Drummond no seu livro que virou minissérie global). Eu curtia o local, sabe? Ficava ali, bebericando e curtindo o mulherio indo pra lá e pra cá. Foi quando estacionou uma Radio-Patrulha, desceram os homens e me pediram os documentos. Apresentei a identidade, mas exigiram a carteira profissional, para provar que eu era trabalhador. Eu não a tinha comigo, deixara-a em casa e aí fui preso e jogado no camburão, acredita? Pois me levaram, compadre, lá para o DI (Departamento de Investigações), na Lagoinha, e me deram o maior cacete, tapas na cara e tudo o mais. E eu sem saber porque estava apanhando tanto, mas aí veio o Delegado e falou que era titular da famosa “Delegacia de Vadiagem” e eu, sem carteira profissional, era suspeito de vagabundagem. Bom, até explicar que tromba de elefante não é canudinho, eu já havia apanhado bastante. Fui pra casa todo machucado e por algum tempo não saía nem pra ir à padaria! E agora, veja você, esses carinhas hoje marcam arrastões pela “internet”, fazem a maior bagunça, quebram tudo, peitam a polícia e ninguém é preso, não acontece nada, é mole? Nem um tapinha na cara. Às vezes a polícia leva uma meia dúzia deles, mas solta logo na Delegacia, assim sem mais nem menos! Aí fica muito difícil, compadre, você não acha?...”

Fica aí uma sugestão aos nossos governantes:- por que não recriar a famosa “Delegacia de Vadiagem”? Quem sabe seus homens não resolveriam o problema?!...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 25/08/13

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 25/08/2013
Reeditado em 25/08/2013
Código do texto: T4450913
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