A Sombra
- Me matem, agora...
Eu estava preso em uma cadeira, completamente amarrado, com as mãos nas costas. Na minha frente havia três caras, um deles parecia novato, esta vigiando a porta apesar de não parar de me olhar. O segundo encostado na parede, estava com a aparência de alguém dormindo. E o terceiro, segurando um taco de baseball, me parecia o líder deles, e me olhava sorrindo. Apesar de eu estar implorando por minha morte, medo era a única coisa que eles sentiam por mim.
- Temos algumas perguntas antes disso – disse o cara do taco de baseball, olhando para a sua face eu lembrava o motivo de estar ali. – não esperava te ver entrar pela porta da frente.
Era noite, estava frio, ao longo da rua se via o prédio aonde era o meu destino, eu esperava entrar, mas não esperava sair. Eu andava lentamente em direção a ele, até que me vi na portaria, apaguei no chão o meu ultimo cigarro.
- O que quer aqui? – disse o porteiro ao me ver.
O jeito de falar era único, a sua boca tremia a medo, ele me conhecia, e sabia o porque estava lá.
- Todos precisam de uma razão para viver – disse lentamente, a tempo de esfaquear o pescoço do porteiro, apesar de qualquer segurança, a sua cabine não tinha vidro – e vocês estão com a minha – ao canto da cabine se ouvia o rádio do porteiro chamando por ele, o peguei, e disse – a sombra chegou.
Foi o suficiente para ativar todos os alarmes.
- Quer me dizer que você invadiu a minha base, matando todos os meus homens, portando apenas uma faca? – disse o cara do taco de baseball, seu sorriso era irônico, mas não o suficiente para esconder o que realmente estava sentindo. Eu tinha roubado as armas dos seguranças.
- Parece que meu nome ativou todos os alarmes – disse eu, tão irônico quanto – e aquele som estava me incomodando – e só assim olhei para o lado, ao chão descansava um corpo.
- E me parece que a sombra esta bem na minha frente – disse o cara do taco de baseball, mas não prestei atenção, o corpo era da minha mulher, e aquela era a segunda vez que eu a tinha visto daquele jeito.
Demorei para chegar aos porões da construção, e muitos tentaram me parar, quando eu finalmente achei o cárcere da minha esposa, ela já estava morta, não tinha chegado a tempo. Fui surpreendido por uma pancada, a tempo de eu disparar o meu ultimo tiro, em vão, logo desmaiei e fui amarrado.
- Estranho, vocês estão demorando demais para me matar – disse então, eu não tinha mais para o que lutar, estava tudo acabado.
- Estamos apenas apreciando o momento – disse ele, a tempo de eu reparar uma pequena fissura no alto teto do cárcere, lá passava o gás encanado para o resto do prédio, e logo ao lado havia o enorme botijão em que ele ficava contido. Meu ultimo tiro não foi em vão.
- Sabia que um fumante sempre anda com um isqueiro? – disse, tentando de alguma forma alcançar os meus bolsos, o cara do taco de baseball não tinha entendido o porque eu havia dito aquilo, mas o cara da porta parecia ter entendido, ele estava olhando para o teto.
- Engraçado a morte não é? - disse, quando finalmente consegui alcançar o isqueiro do meu bolso, o cara da porta havia percebido, ao ponto de apontar a arma para mim – vamos lá garoto, atira, atire na sombra – mas ele não conseguiu.
E pareceu então que eles finalmente haviam sentido o cheiro do gás infestado no subsolo do prédio, era o suficiente para o trazer inteiro ao chão, mas ninguém pareceu tem nenhuma reação, eu iria transformar em poeira o cara do taco de baseball e todos os seus súditos, era o fim daquele clã e ele sabia disto, todos com o compartilhado sentimento de medo. Seria o preço por terem tirado de mim o meu ultimo vestígio de vida. Coloquei a mão no isqueiro pronto para ativa-lo, a tempo de dizer.
- Deviam ter me matado antes.