O Paraíba está secando...
Quando nasci, o rio Paraíba, que se origina e termina neste Estado, descia às carreiras a Serra do Jabitacá, caindo de mais de mil metros de altitude, em direção ao quintal da minha casa; o rio passava por lá para completar seus 380 km de extensão em Cabedelo. Quintal por assim dizer, mas era um sítio, quase uma grande granja que separava a casa da margem esquerda do rio Paraíba. Nesses tempos de Pilar, vez ou outra, essas águas visitavam meu quintal, tornando minha infância parte das suas enchentes. Quando isso acontecia, o rio caudaloso passava, carregava árvores, bois, canoas e cavalos que estavam amarrados perto dele. E meu pai, cauteloso, mostrava-nos a cheia. Se a enchente me atemorizava ao vê-la passar atrás da minha casa, mais medo fazia ao escutar, no velho rádio ABC, ela cobrindo a ponte e invadindo casas em Itabaiana. Sivuca certamente sofreu muito desse medo, ao morar bem no outro lado do rio, já nos limites de Campo Grande. Temer o rio Paraíba nos tempos de chuva formava de Itabaiana, Pilar e Espírito Santo uma só comunidade que sofria ameaças de inundação. Minha mãe nas conversas com Dona Lita e Dona Vicenza não evitavam apavorar crianças, lendo na Bíblia história de “dilúvio”, como “castigo para lavar o mundo cheio de pecado”. No entanto, a meninada usava o medo para não morrer afogada...
Hoje, meu medo é o contrário do da enchente, temo que o rio seque. A cada dia, desrespeitam seu leito nu, despido d’água, retirando dele sua areia para vendê-la às construções de Recife. Os lucros dos negociadores de areia estendem a venda aos estados vizinhos. Por aqueles lados, o rio chora a ausência das águas; melancólico, inundado por plantações de batata e por grandes escavações, o velho rio ainda lava roupa e banha cavalo, negando lembranças da minha infância.
Nasci bem perto da margem esquerda do rio, parte da minha infância foi passada no convívio com essas águas, pescando piabas, carás, bagres e pitus entre os capins da margem ou nas maiores cacimbas. Hoje, corta meu coração ver aquele “fiozinho” de água, parecendo inofensiva cobra, fugindo dos enormes pneus das caçambas para não ser esmagada. Aquele rio volumoso, que sempre encheu Boqueirão e ameaçou derrubar represas, não corre mais, anda secando, nas suas areias restantes, enxugadas pelas águas que sumiram... O Paraíba está secando.
Hoje, meu medo é o contrário do da enchente, temo que o rio seque. A cada dia, desrespeitam seu leito nu, despido d’água, retirando dele sua areia para vendê-la às construções de Recife. Os lucros dos negociadores de areia estendem a venda aos estados vizinhos. Por aqueles lados, o rio chora a ausência das águas; melancólico, inundado por plantações de batata e por grandes escavações, o velho rio ainda lava roupa e banha cavalo, negando lembranças da minha infância.
Nasci bem perto da margem esquerda do rio, parte da minha infância foi passada no convívio com essas águas, pescando piabas, carás, bagres e pitus entre os capins da margem ou nas maiores cacimbas. Hoje, corta meu coração ver aquele “fiozinho” de água, parecendo inofensiva cobra, fugindo dos enormes pneus das caçambas para não ser esmagada. Aquele rio volumoso, que sempre encheu Boqueirão e ameaçou derrubar represas, não corre mais, anda secando, nas suas areias restantes, enxugadas pelas águas que sumiram... O Paraíba está secando.