Mentiras que o povo conta.
Quem inventou esta mentira?
Assim os moradores da cidade se puseram a perguntar uns aos outros. Como se pudessem culpar alguém.
Era sábado 09 de setembro de 2006, precisamente vinte e duas horas e trinta e cinco minutos(22:35hs), quando tomei conhecimento do primeiro comentário. Esta conversar se desenrolava em alto e bom som por duas mulheres em frente à Assembléia de Deus especificamente na Praça da Bíblia. Uma Senhora de ótima estética e bem vestida, com uma voz fanhosa dirigia sua fala a uma jovem simples, mas de boa aparência.
- Você conheceu o Hércules?
- Quem?
- O Hércules, um adolescente portador de necessidades especiais.
- Ah! É aquele que anda arrastando os pés a passos largos e com o calção posto acima do umbigo e um boné pro lado.
- Sim é ele mesmo.
- Mas, o que tem ele?
- Menina, ele foi brutalmente assassinado há pouco instante.
- Mentira – replicou a jovem.
- Verdade – sustentou a Senhora.
- Não me fala uma barbaridade desta, quem seria capaz de cometer tamanha atrocidade?
- Estão dizendo que foram dois marginais - acrescentou a Senhora:
- Como?
- Os dois marginais foram mortos no mesmo instante por populares que estavam passando no local.
- Você por ventura sabe onde estão os corpos?
- Eu ouvi dizer que estão os três na pedra do Hospital Municipal – assim respondeu à senhora.
Ali ao lado estava eu, calado e perplexo com o teor da conversa das duas, e logo que cheguei em casa tratei de comentar com a minhas esposa:
- Cássia, você nem imagina o que acabou de acontecer.
- Não, não sei mesmo, a não ser que você me conte.
- Sabe o Hércules?
- Não.
- Como não?
- Não, não sei.
- O Hércules! Aquele menino portador de deficiência mental que sempre está andando no ônibus da caliman e gosta de fazer o sinal de positivo pra todo mundo.
- Ah! Já sei, ele sempre esta lá no balcão da loja, pedindo um copo para tomar água no bebedouro.
- Isso eu não sei, só sei que o mataram de forma covarde e violenta há poucas horas.
- O que?
- É isso mesmo, acabei de ouvi duas mulheres comentando, que ele está na pedra do Hospital Municipal.
- Você está brincando!
Essa era a reação de todos quando tomavam conhecimento do ocorrido, “indignação”.
Para minha surpresa quando cheguei em meu trabalho na segunda feira, o fato já era do conhecimento de alguns funcionários e os que não sabiam tratei logo de informar-los, a indignação era geral.
O dia já findava quando retornava para o meu lar, e o comentário que se ouvia no coletivo era a morte brutal do menino Hercules. Lá por volta das dezoito horas e trinta minutos (18:30hs), estava adentrando em meu precioso lar, e reencontrando minha bela e amada esposa. Porém desta vez foi ela que logo tratou de me falar:
- Você nem imagina o que tenho pra te contar!
- Não me venha com mais uma barbaridade, já basta a do Hércules.
- É do Hércules mesmo, porém não é bárbaro o que vou te contar.
- Não?
- Não.
- Então, conta logo.
- Amorzinho, hoje por volta das quinze horas (15:00hs), o vendedor saiu correndo loja adentro gritando – olha quem esta aqui, olha, olha – olhei e tive de olhar mais perto, por quer não queria acreditar.
- Não me diga que era o Hércules?
- Sim, era ele mesmo, pedindo um copo para tomar água.
- Você esta brincando!
- Não, não mesmo.
- Não pode ser!
- Amorzinho é verdade, você tinha de ter visto os funcionários querendo vê-lo e certificar se era mesmo ele.
- E ele?
- Ele, coitadinho! Sem entender nada, só sorria para os funcionários que não paravam de olha-lo, e cochichavam uns com os outros dizendo – ele esta vivo!
- Quer dizer que eu saí mentindo pra todo mundo que encontrei pela frente?
- Mas não foi só você amorzinho, por onde passei hoje este era o comentário.
Não se sabe, e talvez nunca se saberá quem inventou essa história, o que eu posso afirmar é que não foi a primeira e nem será a última mentira que o povo conta.