A VERDADEIRA AVENIDA BRASIL
Quem olhasse superficialmente para aquela movimentada avenida de um bairro periférico, poderia concluir que a mesma, possuía uma vida própria e independente. Porém, uma visão mais apurada, mostraria os sonhos, esperanças e frustrações de uma população local, mas que não diferem dos anseios e decepções da grande massa urbana.
O homem, que vendia churrasquinho em frente ao depósito de bebidas, sonhava em ser proprietário de um restaurante: “aí sim, eu tiro o pé da lama e a barriga da miséria”.
A viúva, que pedia esmolas na porta de um banco, vez ou outra, tinha de pagar propina a dois policiais valentões, para que a deixassem trabalhar em paz, e reclamava:
_ Vocês não têm vergonha de tirar o pão da boca dos filhinhos de uma pobre viúva?
O dono do CARNE GORDA, avisou que não venderia mais fiado a ninguém. O resultado foi que os fregueses sumiram, e inconsolado, o açougueiro não teve outra alternativa, senão entregar o cômodo de comércio. A nova locatária _ uma turca feia e magricela _ pretendia conquistar os fregueses oferecendo além de carnes, quibe e esfirra.
Seu Malaquias _ o velho farmacêutico com fama de assanhado _ reclamava a perda da libido. Nem com o Viagra conseguira dar solução à coisa, e culpava a esposa, que muito ciumenta, apenas permitia que ele aplicasse injeção nas nádegas das senhoras com mais de oitenta anos.
O proprietário do boteco vivia maldizendo sua sorte. Depois de quase trinta anos trabalhando como cobrador de ônibus, sua aposentadoria não dava para nada. Agora, toda noite ele era obrigado a aturar os pinguços impertinentes que não queriam ir embora do bar; e perdera a conta de quantas vezes teve de levá-los para casa. Como se já não bastasse tudo isso, não era raro que a mulher de um dos beberrões, fosse fazer escândalo na porta do boteco. “Ah, isso é a gota d’água”, pensava o dono de botequim, espumando de raiva.
O rapaz do salão de cabeleireiro_ que em casa gostava de bancar o machão_ adotara a contragosto o tipo efeminado, para agradar as clientes.
O pastor desejava expandir as dimensões do templo, e para isso, cobrava mais “fé” de seu rebanho.
Era sabido por todos do bairro, que a mulher do quitandeiro lhe botava os cornos, no entanto, o coitado a amava desesperadamente, e nutria a remota esperança, que um dia ela se cansaria dos outros.
A senhora, proprietária de uma banca de jornal e revistas, sempre acalentara o desejo de ser uma grande jornalista, entretanto, não conseguira nem mesmo ser admitida num simples emprego na função de bibliotecária. Infelizmente a comunicação não era o seu ponto forte.
As pessoas entravam na sua banca, escolhiam o que queriam, pagavam, e quase sempre saíam em silêncio.
Os carros vão passando céleres pela avenida, no afã de chegarem logo ao seu destino, enquanto as pessoas vão permanecendo ali, às vezes durante anos, alimentando sonhos, esperanças, êxitos e amargando muitas decepções.
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