O Lovejoy Casamenteiro

O Lovejoy Casamenteiro.

- Aceita ter sua liberdade tolhida, seus peidos arrolhados, seu círculo de amizade restrito à vontade de outrem e assistir ao Fantástico na casa da sogra aos domingos?

- Aceito.

- Aceita o perpétuo esgar de desgosto e contenção de violência quando das visitas dos sobrinhos endemoniados?

- Aceito.

- Aceita um vulto na frente de tudo o que você for/querer fazer, dizendo que quer atenção?

- Aceito.

- Aceita que qualquer segredo terá de ser extinguido? Compreenda que qualquer ar dúbio tornar-se-á uma sucessão de interpelações, aporrinhações, grunhidos, caras de cu e gestos bruscos?

- Compreendo. E aceito.

- Aceita que seus devaneios deixarão de existir assim que você disser o "sim" definitivo? Que seus preciosos pensamentos só serão seus enquanto você estiver sentado com o rabo sujo na privada do banheiro do escritório?

- Aceito.

- Aceita a possibilidade iminente de perpetuar essa raça sem conserto nem propósito que é a sua?

- Aceito.

-Aceita financiar um carro em 60 vezes, uma casa em 360, uma geladeira em 12 para, de repente, a qualquer hora, depois de qualquer periodo de tempo posterior ao já citado "sim" definitivo, isso terá de ser dividido, que isso poderá cair nas mãos de um juiz que nada teve a ver com as suas decisões precipitadas e românticas, que todos os bens materiais acompanharão o processo de ruína de seus nobres sentimentos?

- Er... Aceito.

- Aceita e compreende que, ao dizer "sim", selará um compromisso eterno e fará vista grossa para tudo quanto seu corpo - esse invólucro conspurcado - possa urgir? Aceita que esta pequena aceitação desembaralha um fluxograma infinito de negações? Aceita, aceita, aceita?

- ACEITO, PORRA!

- Ah, o amor...