A culpa é do vento.
Duas horas da madrugada. Sinto fome, vou à cozinha tomar um toddynho e comer umas torradas integrais, adoro.
Ao chegar na sala quase desmaio de susto, meu apê estava alagado. Como aconteceu isso, meu Deus? O que eu fizera de errado? E agora, o que faço?
Chorar, nem pensar! Se começar a chorar vai perder tempo e a água vai para o apê do vizinho, mãos à obra!
Ok, mas primeiro quero saber quem provocou tudo isso.
Chego à área de serviço e Maria, minha ajudante, ainda está conectada à tomada. Olho para o varal, uma cueca dos gêmeos tinha voado direto para o tanque com pregador e tudo barrando a passagem da água. Descubro o autor daquela bagunça toda- o vento implicante.
Chorar não podia, xingar não adiantava e, no silêncio que eu tanto gosto, comecei a enxugar.
Enxugo, enxugo, enxugo e nada de ficar seco. Maria, quantos litros d’água tu suportas? Nenhuma resposta.
Meus braços, até então dedicados ao teclado e ao mouse - meu lazer de várias horas - doem muito. Sozinha em casa era eu comigo mesma e o pior ainda me aguardava.
O tapete da sala tinha sido lavado e precisava urgente secá-lo ou trocaria o perfume de lavanda por outro nada agradável.
Ligo o ventilador de teto, pego pilhas de folhas de jornal e aos poucos, uma hora mais ou menos, consigo colocá-lo em cima das cadeiras forradas com um edredon. Que alívio! Deito-me no sofá e fico encantada com aquele quadro surrealista que eu conseguira pintar em plena madrugada.
Três e meia da manhã, após o banho tomo meu toddynho com torradas.