O SEMEADOR DE IPÊS

Existem tão belas atitudes que devem ser copiadas e difundidas! Certa vez, assistindo a um documentário na TV sobre um comandante que pilotava um avião catalina sobre a floresta amazônica, em que ele jogava a esmo sementes de abóbora e pepino, o repórter que o acompanhava, perguntou-lhe:

- Por que você faz isso, comandante?

- Amaral, veja a exuberância dessa floresta, essas árvores têm mais de trinta metros e se houver uma pane no motor que não dê tempo de pousarmos num rio, essas árvores nos esconderão e se não morrermos na queda, poderemos morrer de fome e sede, isso se não formos antes comidos pelas feras. - Também poderemos morrer de febre se não nos encontrarem a tempo. Então, eu estou semeando o meu possível futuro alimento, pois, cotidianamente sobrevôo esta floresta e quem sabe eu venha a colher o que semeei.

Dessa estratégia de sobrevivência surgiu-me a idéia de semear ipês pelas estradas em que eu viajava, para dar um visual cromático à paisagem monótona das rodovias na época.

Na casa em que eu morava, havia um exuberante pé de ipê amarelo que espalhava suas sementes no quintal e que minha mãe as varria e as guardava. Tínhamos muitas sementes prontas para germinar.

Em um ponto da Regis Bitencourt (BR 116) à beira da estrada tinham plantado pinus em uma faixa bem larga. Cuidadosamente e espaçadamente retirei algumas mudas de pinus para plantar em meu sítio em Juquitiba, ação que foi copiada também pelo meu colega de viagem que também tinha um sítio. Ao bem da verdade, nós tínhamos planejado aquele ato. No lugar de onde tiramos os pinos, colocamos sementes de ipê e por fim jogamos a esmo mais sementes que sobraram..

Um ano depois fui trabalhar em outra empresa e não viajava mais pela BR 116 como antes fazia quase durante o todo o ano.

Dezessete anos após ter “furtado” os pinus, fiz uma viagem turística ao sul do país, e eis que vejo, à beira da estrada, floridas entre pinus, várias árvores de ipê amarelo. Pensei: Que paisagista teria pensado em mesclar uma espécie nativa com uma exótica?

- Fui eu, fui eu, gritava emocionado a contemplar o meu bosque! Quando fiz, não imaginei que ia ficar tão bonitas! Pelo menos meus olhos assim as vêem!

Minha viagem durou duas semanas, vi paisagens maravilhosas na Serra Gaúcha, mas a grande emoção foi mesmo o bosque que ajudei a formar. Senti-me realizado. Muitas outras árvores que estão pelas estradas brasileiras, eu as plantei sem qualquer planejamento paisagístico. É impossível esquecer esses versos: ...mas enquanto eu reguei sementes, desmataram este mundo inteiro (Moacyr Franco – Música Pedágio). Quantos lenhadores impunes estão neste país.

No combate ao aquecimento global já fiz minha parte em escala geométrica e vou continuar fazendo. Se cada um fizer sua parte, no mundo existirão menos canalhas.

Nota: Assistia ao programa Amaral Netto Repórter da TV Globo por volta de 1970.

Os ipês amarelos já começaram a florir e devem ir até meados de setembro. De minha varanda vislumbro três árvores, uma já está quase totalmente florida e as outras duas ainda não deram sinal, estão esperando setembro chegar.

SANTOBRONZATO 21/8/2.013

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 21/08/2013
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