Crônicas de busão - Os manos
Encontros entre amigos que são inevitáveis de se ouvir, ainda mais quando um deles está sentado bem ao seu lado?
Ai então... se voce não tem como eu um hábito muito útil de usar um bom fone de ouvido plugada numa boa playlist para suportar o barulho do motor de coletivo, não resta outra coisa a não ser ficar obrigatoriamente atualizado da vida alheia.
No dia que eu esqueci o fone de ouvido em casa...
Onibus no ponto.
Descem dois. Embarcam mais quatro. Gente na porta - Pode fechar, motô! É sempre assim em horário de pico.
Um desses que embarcaram entra e abre um sorriso destacado logo que identificou um rosto conhecido bem localizado ao meu lado:
-E aí mano, beleza?
O outro sentado a minha esquerda estica o braço direito naqueles cumprimentos de amigos com dedos e soquinhos.
-Belêza véio, Sussa.Suave.
Em pé, o rapaz toca no ombro do que está sentado e pergunta
-E aí, mano? nasceu?
-Nossa véio, nasceu! Vixê, mano, nasceu...Responde apertando as mãos contra o queixo num gesto de metade angústia, metade alívio.
-E era o quê, mano?
-Mulequinho, véi.Um mulequin esperto, nasceu com zóinho já aberto, nossa...nem te conto, mano.
-Putz, que da hora, mano! Mas o quê? Cê assistiu o parto? Num creio véi...
-Mano, assisti.Pausa, põe a mão no rosto e até abaixa a cabeça.
- Assisti véi.. e mano, o bagulho é louco!A parada lá é muita loca, mano! ó, sem palavras... Véi, ce não tem noção que é aquilo...Na boa véio, pra mim é o seguinte: acho que todo home deveria assistir lá o baguio lá e aí, dar valor nas muié, tá ligado? Porque o bagulho é muito louco...e ó, graças a deus que sou home!