Negócios: de sucessos e (a) fracassos

NEGÓCIOS: DE SUCESSOS E (A) FRACASSOS

(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 21.08.13)

Simplício da Gama está inconsolável com a perda de mais um título pelo Brasil ou, ao menos, com o esfarelar-se de mais uma carreira internacional extremamente promissora:

- Alguém precisa fazer alguma coisa! E já estou achando que esse alguém serei eu!

Simplício também não se conforma com os infortúnios do destino, com a peça que a sorte lhe pregou: concebido no Rio de Janeiro de pais cariocas, gestado até o quinto mês da gravidez na Cidade Maravilhosa, teve o pai transferido para a Ilha de Santa Catarina em meados da década de 70 do século passado, a mãe veio junto (ele na barriga dela) e, quando ela ia voltar a fim de parir no Rio, conforme programado, ele nasceu prematuro de sete meses: contra a vontade da família e ao arrepio dos planos acalentados, Simplício é legalmente catarinense.

(Na verdade - mas isto Simplício da Gama não admite nem sob tortura -, seus pais, vascaínos roxos, são fluminenses e sua gestação foi igualmente fluminense, e não carioca, visto haver transcorrido na Baixada, cercanias da cidade do Rio, onde seus pais trabalhavam e sempre moraram; o que não se pode afiançar com precisão é a geografia exata do assalto final, isto é, da concepção.)

Neste sentido, o que brilhou foi a estrela de Cornélio da Gama, o primogênito então com cinco anos, praticamente sequestrado das portas do avião pela avó materna:

- De jeito algum! Neto meu não vai sumir numa terra atrasada daquelas, onde, para piorar as coisas, vocês não têm ninguém que olhe pelas crianças!

Cornélio, de nome imposto pela mãe, faz a vida no Rio de Janeiro, de onde não sai por ouro nenhum; lá, troca de mulher a toda hora, porém sem jamais terminar com nenhuma delas, que, por atos e atitudes, tomam a iniciativa do rompimento.

Simplício não entende como seu irmão mais novo, o Robervaldo (imposição paterna a fusão no filho dos nomes da mãe e do pai do garoto, Roberta e Osvaldo), não se importa nem um pouco pelo fato de ser barriga-verde e, ainda por cima, torce por um time de futebol da terra dele, ignorando olimpicamente as cores e os escudos íntimos do Maracanã.

Funcionário público municipal, Simplício da Gama costuma ir para o trabalho - sua forma de protesto por não conseguir deixar a Ilha - vestindo a camisa do Vasco. No serviço, a qualquer pretexto, ou mesmo sem pretexto algum, aborda seu tema recorrente:

- Vocês viram no "Fantástico" o que os ingleses, a mando dos americanos, fizeram com aquele brasileiro, namorado do jornalista que publicou as denúncias sobre a espionagem dos EUA? Preso incomunicável por nove horas no aeroporto de Londres! E sabem por que? Porque o que os americanos fazem é espionagem industrial para favorecer as empresas deles, combate ao terrorismo é desculpa para inglês ver. É assim que estão derrubando o Eike, um mineiro que subia a passos largos para ser o homem mais rico do mundo, pronto a deixar para trás dois norte-americanos, um do México e outro dos Estados Unidos. Daí, na mesma hora, vem a "Forbes", americana, e diz que o Eike, que chegou aos 30 bilhões, agora é bilionário por muito pouco. Precismos reagir, o Brasil não pode perder esse título assim no tapetão! Como qualquer idiota sabe muito bem, ter o maior bilionário do mundo significa ter muito mais emprego, renda, imposto...

- E fazer o que, Simplício, na tua abalizada opinião?

- Criar uma ONG para salvar a carreira do cara. Já tenho até nome pra ela: ONX. E para dar um jeito de trazer a carioca Luma de volta com 25 aninhos.

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Amilcar Neves, envolvido com a criação de uma nova novela, é escritor com oito livros de ficção publicados, alguns dos quais à venda no sítio da TECC Editora, em http://www.tecceditora.com.

"Somente teremos discussões salutares neste País se respeitarmos a História."

Eu Mesmo, em 17.04.13, respondendo a e-mail sobre golpe de 1964 e ditadura de 21 anos.