O caso da caipirinha

Que maravilha o Brasil! Puxa, como a europeia gostou de tudo aqui. Se eu pudesse levaria este país pra casa, mas ele é tão grande que não vai dar certo. Tudo a deixava maravilhada, extasiada, encantada. Não parava de falar com os conterrâneos via whatsAPP. Ai, que coisa boa este Brasil, o Rio de Janeiro ainda mais. Quando visitou Minas Gerais, Biah comprou uma garrafa de cachaça da boa, uma branquinha azulada. Foi tomando... tomando pura. Também tomou todas pelos botecos e, quanto mais tomava, mais gostava e lambia os beiços. Pensava na distante pátria onde bebia muita tequila, mas como a mineirinha não tinha igual. Passeando com os companheiros de viagem, durante a noite conheceu a caipirinha, foi paixão avassaladora e instantânea. No dia seguinte voltou ao mercado e comprou a melhor e mais cara cachaça. Saiu das terras brasileiras aos prantos. Lá, no seu território natural, passou a achar tudo muito ruim. A cachaça de lá, agora podia sentir, era uma lástima. Boa era aquela cachacinha brasileira. Boa era aquela caipirinha bem socada. Não via a hora de regressar ao Brasil. A saudade bateu mais forte do que coqueteleira na mão de garçom treinado. Ai, aquele luar na praia, ai aquele sambinha no violão. Que terra mais sem graça esta minha. Conversava com a amiga brasileira pelo Skype. Uma dizia vou, outra dizia venha, venha logo. Ai, amiga, que falta me faz tudo isto daí. Te echo de menos, Brasil! Amiga, me ensine a fazer a caipirinha para eu tomar um porre brasileiro. Tão fácil, ensino sim. Tem limões? Sim. Tem açúcar? Claro. Tem liquidificador? Sim. Então vou ensinar a você com toda a paciência deste mundo. Si, muy bien! Coloque tudo sobre a mesa. Lave primeiro os limões. Lavou? Sim. Caprichava para dizer algumas palavras em português. Corte os limões. Corte mais, em mais partes. Assim? Sim. Coloque no liquidificador. Blá blá blá blá. A europeia conferia com a brasileira pela câmera. Muy bien, tudo preparado. A vontade na ponta da língua. Outras amigas haviam chegado. Caipirinha brasileira, tomem, experimentem, vejam que delícia. Sabor Brasil. Te quiero, Brasillllllllllllllllllllllllllllllll. Os copos cheios de caipirinha. E agora? Colocou as pedras de gelo? Sim. Um brinde! Tim tim. Aiiiiiiiiiiiiiii,que delissioooooooosooooooooooooooooouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.Buenooooooooooooooooooo. E tomavam todas, mostravam para a brasileirinha como se fosse algo novo pra ela: Mira! Miraaaaaaaaaaa! Quieres? Já estou ficando um pouco tonta, disse uma magrinha no canto do sofá. Foi aí que a primeira, aquela que esteve no Brasil, dirigiu-se à amiga brasileira fazendo caras e bocas de intimidade: Amiga, tem algo diferente nesta caipirinha. Vos me enseñastes correctamente? Que tem a caipirinha? Não estava tão boa? Si, pero no tem gusto de álcool, que pasa? Não posso saber o que tenha acontecido. Conversa vai, conversa vem. Cheira o copo pra lá, cheira pra cá, nadaaaaaaaaaaaaa. Voltando para a garrafa e já pensando escondidinho que brasileiro gosta de trapaça, por certo comprou qualquer coisa, menos cachaça. Cheira e torna a cheirar até que veio a resposta na mente. O filho de Biah entornou o conteúdo da garrafa e substitui-o por água. Agora não tinha como resolver, pois ele estava bem afastado de casa, em um longínquo país da América do Sul.

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