ATENÇÃO

Ele vai se matar!

Já decidiu. Suicidar: não havia verbo mais reflexivo e maldito. Era a única opção. Passara toda uma vida, cabisbaixo e deprimido. Acabar com a própria vida era o mais correto a fazer – só a morte o libertaria da dor.

Dor? – disse certa vez um amigo, quando ele se lamentou – Você é saudável, caminha direito, não tem nada no peito que te impeça de respirar. Que dor é essa que tanto te aflige?

Ele nem tentou explicar. Dor da alma não se explica com palavras, pois tudo lhe doía, conversar com as pessoas, trabalhar, pagar suas dividas, acordar e continuar.

Não iria fazer a menor falta. Ninguém o notava mesmo. Sabia que não passava de um objeto para as pessoas. Ninguém realmente lhe entendia ou o tratava bem. Para o mundo, ele não era gente, era sempre isso ou aquilo, nunca amigo, nunca parente. Ele era sempre o objeto descartável, parte da estante, ausência de reflexo no espelho, pedra no meio, um eterno retirante, migrando para lugar nenhum.

Só havia uma coisa a fazer: tornar o seu último ato, algo memorável. Jogaria seu corpo na via do metrô. Era preciso que a sua morte fosse um evento, uma ocasião em que todos finalmente o notassem e o respeitassem. As pessoas lhe dariam atenção e finalmente ele seria tratado como alguém e não como algo.

Era 18:30 da segunda-feira no metrô Sé, quando ele se atirou na linha do trem. Sua morte chocou a todos e repercutiu até em quem não estava presente.

São Paulo parou na hora do rush. Um silêncio se fez ouvir, enquanto todos os auto falantes de todos os trens parados em diversas estações noticiaram:

“Atenção! Paramos momentaneamente devido a necessidade de retirar objetos da via. Voltaremos a operação assim que for possível.”