NEM LUA NEM MEL

O religioso fundamentalista casou e protocolou sua noite de núpcias em um hotel escola, antigo mosteiro medieval, para o ritual de acasalamento, aonde iria, na linguagem bíblica “conhecer sua esposa”.

Após conferir todos os detalhes desde a recepção, certificar-se da religião da recepcionista, do boy que transportou suas malas e da camareira, a quem pediu que retirasse da sua alcova, a garrafa de champanhe, cortesia inconveniente e espúria, do hotel para os ortodoxos nubentes, evidentemente mostrando sua indignação. “Um absurdo”, avaliou o episódio. Exigiu também que retirassem o “instrumento do demônio para destruir as famílias”, no caso, um aparelho de TV de LED, 32 polegadas, conectada uma rede de canal fechado. Conferiu minuciosamente os quadros e adereços e não encontrou ocultismo e símbolos satânicos que esperava. Após jogar pela janela um cinzeiro que encontrara sob o criado mudo, disse finalmente a sua esposa:

- Agora nossa câmara de dormir está santa, podemos dar prosseguimento ao rito de consumação do nosso matrimonio, minha adorável e fiel consorte.

Não sei se ela se considerava com sorte mesmo, mas já não suportava mais a ansiedade de vinte anos de noivado, quarenta de idade e o castigo que a castidade lhe impunha.

Ele, como houvera pactuado verbalmente, foi primeiro ao banheiro, ou melhor, ao toalete, vestiu seu pijama amarelo com listras pretas, com mangas longas e calças frouxas e instou sua esposa para que se preparasse.

- Amada, obsequiosamente, vá ao toalete por sua vez e retire sua indumentária nubente, trocando-a por trajes que estimularam minha volúpia sexual.

Ela foi, vestiu um conjuntinho de lingerie preto, uma camisolinha transparente, daquelas de lascar o cano, e saiu fazendo pose de pole dancer segurando no canto da parede.

- O que é isso! Para traz de mim satanás! Exclamou o noivo embravecido. Você é minha santa esposa, não se comporte como uma prostituta. Protestou veementemente. Volte ao toalete, retire essa fantasia de puta e enrole-se totalmente em uma toalha. Ordenou.

Ela voltou, sem lhe dirigir o olhar, cuidadosamente enroladinha na toalha branca que lhe fazia parecer mais uma tapioca que uma mulher. Ele sorriu satisfeito e disse:

- Deite-se no nosso leito de amor, ó amada minha. Irei virar-me de costas enquanto você retira a toalha e cobre-se com o lençol nupcial. Ao termino, avise-me, por obséquio.

- Pronto. Disse a noivinha, entre soluços.

- Por favor, deite-se em decúbito dorsal e ajuste o orifício do lençol nupcial para a posição adequada.

Ela fez isso.

- Agora, abra seus membros inferiores e angule aproximadamente a quarenta e cinco graus, por gentileza, mas antes de nosso primeiro coito, gostaria de fazer uma oração...

Vou encerrar por aqui para evitar xingamentos e palavrões que algum leitor possa se achar no direito.