A atriz Tonia Carrero
Ia muito comer uma gostosa peixada no restaurante do Cecil Thiré, filho da belíssima Tonia Carrero. O restaurante fica em Rio das Ostras, na praia do cemitério. O Cecil não é mais o dono do restaurante. Sempre nos cumprimentávamos efusivamente, embora não fôssemos amigos. Ele aparecia sempre com seu Jeep estiloso.
Pensava: - “Como pode um filho feio com a mãe tão bonita. Verdade, o Cecil não é tipo de beleza, mas um grande ator. Decididamente, apesar da extrema simpatia, não “puxou a mãe”, apenas os olhos azuis.
Por que estou falando nele? Simplesmente, porque, ontem, vi uma reportagem em um jornal de São Paulo sobre a Tonia Carrero. No dia 23 de agosto, sexta-feira próxima, a nossa beldade carioca fará 91 anos. Mora no Leblon, esquecida de seu público, que não a reconhece mais. Costuma tomar banho de sol em uma praça do Leblon, na parte da manhã. Vai de cadeira de rodas. Não sei o que ela tem, mas claro está debilitada. Idade bem avançada. E perdendo a sua beleza, o que lamento muito.
Para mim, ela foi a mulher brasileira mais bonita de todos os tempos. Meu pai era amigo de um tio dela, Jayme Portocarrero. Homem de uma honestidade incrível. De vez em quando, a União Federal pagava atrasados aos Procuradores da União. Ele era Procurador, colega do meu pai.
Quando ele achava que o atrasado não era cabível, se recusava a receber o dinheiro. Dizia ele: - “Pode ser legal, mas não é moral”.
Na reportagem que li, a Tonia fala que é um horror se olhar no espelho. O grande jornalista Antonio Callado, autor de “Quarup” , quando chegou aos 80 anos, disse a mesma coisa: - “A velhice é um horror”. Escapou desse horror morrendo logo em seguida.
Segundo a reportagem, a Tonia, que ficou viúva muito cedo, teve um caso com o Rubem Braga, e outro com o nosso querido e fantástico Paulo Autran. Paixão fulminante e foi o melhor dos seus amores, o Paulo Autran. A inteligencia dele era realmente cativante. Não sabia disso. E se insinuava que ela havia sido amante do presidente Juscelino. O que ela contestou, exclamando: - “Quem dera...”
Quero render minhas homenagens à grande atriz de teatro que foi Tonia Carrero, estando no nível de Fernanda Montenegro, talvez abaixo da estupenda Cacilda Becker, que perdeu o Adolfo Celi para a Tonia.
Gostei da frase da Tonia: - “não perdi minha respeitabilidade por ter tido amantes”. Perdeu não, querida Tonia! Quem somos nós para fazermos julgamentos morais? Não posso deixar de comentar um fato curioso a respeito de minha mãe, contemporânea da Tonia, e que fará também neste mês de agosto (25) aniversário, completando 89 anos, não noventa como estava pensando, pois ela é de 1924. A história é a seguinte: mamãe casou-se no final de sua adolescência e por isso tinha certas infantilidades, toleradas por meu pai, mais velho e mais amuderecido que ela.
O máximo da infantilidade dela era ter um porta-retratos na cabeceira da cama, com o retrato do artista americano Gregory Peck, o bonitão da época. Meu pai, com a velha sabedoria dele, achava graça e não tinha o menor ciúme. Mais velha, claro, o retrato sumiu do quarto. Este surto infantil durou uns cinco anos.
Por que me lembrei disso? Exatamente, porque ao que tudo indica vou me preparando para a minha segunda infância. E, quem sabe, começo a me achar com o direito de comprar um porta-retrato e colocar o retrato da Tonia Carrero, com seus 30 anos, para fugir do terror desse nosso mundo feio...
Que diabo, apreciamos a beleza, um impulso natural que todos nós temos. E peço aos leitores paciência, não estou falando mal das feias (que têm seus atrativos secretos também), estou ressaltando a beleza.
Já tenho a baía da Guanabara na sala, matando as saudades do Rio. Por que não ter o retrato da Tonia Carrero, com todo o respeito, na minha cabeceira?
É a minha homenagem. Tudo por amor àquele Rio de Janeiro, moleque e irreverente, que cabe inteiro dentro de mim!