ADVOGADOS, DENTISTAS E CHURRASCO GREGO

E hoje, depois de seis anos, precisei usar um traje social (calça e paletó). A calça quase que não serviu e as barras, um pouco curtas, batiam nas canelas. Já não se usa mais “boca de sino”, Samuel. Nos metrôs, vi calças “cano, boca estreita, tweed”. Senti-me antigo.

Ao chegar ao centro de Santo André, constatei um mar de lojas “vende-tudo”, padarias, bares, farmácias e placas por todos os lados que diziam: “ADVOGADOS”...”DENTISTAS”.

Sim, o povo quer e precisa sorrir e sim, eles estão cheios de problemas para resolver. Onde há oferta, há demanda.

Mas nada disso foi mais valioso do que me deparar, ao longo do calçadão, com as barraquinhas de “CHURRASCO GREGO + SUCO = R$2,50”. Que lindos! Logo cedo. Gordos, novos, brilhantes e cheirosos. E eu, com fome, babei.

Como pude ser tão preconceituoso? Há dez anos que os vejo e nunca tive coragem de experimentá-los. Sempre os julguei. Precisei estar com fome e com a mente e estômago abertos para então me render.

E de pensar que poderia morrer sem antes ter provado essa “invenção mitológica”. Trinta e três anos! De terno, sapatos pontudos e óculos, disse:

- Bom dia irmão, me vê um!

- Completo? - o vendedor pergunta

- Sim, com tudo o que tenho direito - respondo

E da gaveta surge o segredo, a saladinha, o vinagrete. Abre-te gaveta!

Suco de salada de frutas ou de caju. Optei pelo salada de frutas. Comi logo “foi” dois. R$5,00. Almoçado, farto. Estava uma delícia. Fila de espera, rapaz a todo o vapor, uniformizado, feliz.

Povo que come, povo com fome, assim como eu.

Advogados usam paletós, assim como eu.

Dentistas tratam dentes de bocas que comem churrasco grego, assim como eu.

E eu como churrasco grego vestindo paletó de advogado e sorrio com dentes que dentistas tratam.

Somos todos Um.