A PIRATA
- DVD hoje? - Pergunta a moça. Mochila nas costas, uma coleção de filmes piratas nas mãos: Indiana Jones, Homem de Ferro, Speed Racer e outros mais que não consigo identificar. Ela é bonita. Sua beleza me chama mais a atenção que os filmes que ela oferece. Quero dizer não para ela – nada contra ou a favor da pirataria – mas estou curioso e lanço perguntas no ar, enquanto a observo, vendendo seus produtos naquele balcão de padaria:
- Quem é ela? Como chegou a conclusão que venderia mais DVDs se largasse abarraca, fosse para a rua e se tornasse uma real ambulante? Terá sido o “rapa”? Será a necessidade?
Ela é bonita e seus olhos fortes contam algo a mais que batom, perfume, chapinha e conjuntinho preto; eles dizem que ela tem filho carente ou mãe doente; alguém assim, que a empurre para a rua, para o ramo do Barba Azul, do Jack Sparrow, do Willy Caolho, mas não vejo caveira e espadas em sua bandeira, apenas um moça precisando de dinheiro.
- Tenho os últimos lançamentos – insiste e até baixa o preço. Possui uma voz suave e ao mesmo tempo firme. Deve vender muitos filmes, ou do contrário, não estaria na rua, de bar em bar, padaria em padaria, oferecendo diversão de qualidade duvidosa e apelo certeiro: ela sabe que a sua beleza auxilia as vendas. Na padaria, ela só aborda os homens. Vai ver mulher não compra DVD pirata.
- Obrigado, mas hoje não – respondo. Ela sorri, vai embora, fingindo que acredita que eu comprarei seus filmes num outro dia e eu finjo que acredito que aquele cara que acabou de comprar um dos seus DVDs, o fez, por qualquer outro motivo do que não por sua beleza.