DIA DAS TIAS
São 7 horas. Estou em Santa Maria-RS dentro do ônibus que vai para Rio Grande-RS. Ah! Que delícia! Vou rever minha cidade natal e, principalmente, minha tia Dilma!
Na verdade, vou rever também meu tio Sérgio, minhas primas, parentes e amigos. Gosto de todos, mas minha tia é especial. Gosto tanto que resolvi passar com ela o dia dedicado às mamães.
Já estava viajando de férias em Santa Maria que fica a 1.300 km de minha casa. Então resolvi unir o útil ao agradável: viajar mais uns 300 km e ir até Rio Grande. Pensei nisso e já fiquei eufórica com a ideia de rever a todos e passar uns três dias hospedada na casa da tia mais querida do Brasil.
Dentro do ônibus, parece que as horas se arrastam; afinal o passeio começara às 7 horas em Santa Maria e terminaria em Rio Grande apenas por volta das 13h30min. É um longo passeio. A primeira cidade pelo qual o ônibus passou foi São Sepé. Depois Caçapava do Sul, Santana da Boa Vista, Canguçu, Pelotas e, finalmente, Rio Grande.
Ao chegar à rodoviária, meu coração parecia que iria saltar pela boca de tão excitado e cheio de alegria ao avistar minha tia Dilma, tio Sérgio e minha prima Melissa. Quando o ônibus parou, fui a primeira a desembarcar, caindo nos braços de minha tia.
Tia Dilma é a irmã mais nova de minha mãe. Magra, estatura mediana, cabelos curtos e castanhos e sempre com um sorriso nos lábios. Alegre, bonita, vaidosa e... feliz! Esbanja felicidade! Tem mais de 50 e menos de 70 anos de idade, mas com sua jovialidade ao tratar e falar com as pessoas parece ser mais jovem do que eu. E por essa jovialidade e alegria, que sempre me encantaram nela, é que procuro revê-la sempre que posso.
Vou relacionar as coisas que ela adora: dançar (ela e meu tio formam um par lindo no salão), seus netos, sapatos, bijuterias, ver vitrines, comprar, presentear, ir a bingos e viajar. Ah! Adora também a cor verde. Na casa dela tudo é decorado em verde. Levei de presente um colar... e acertei na cor preferida.
São poucas coisas de que ela não gosta: dirigir, praia e calças compridas, frio, mau humor e levantar cedo. Acorda por volta das 10 horas, levanta-se cantando... vai cantando pelo corredor até o banho e lá solta sua voz: “...Quando o carteiro chegou, o meu nome gritou com uma carta na mão. Ante surpresa tão rude, nem sei como pude chegar ao portão...”.
Ela dá muitas gargalhadas e gosta de recordar quando, na minha infância, “torturava-me” cantando uma música que me fazia chorar de tristeza: “... Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho: voou... voou... voou... voou. E a menina que gostava tanto do bichinho, chorou... chorou... chorou... chorou. Sabiá fugiu pro terreiro. Foi cantar lá no abacateiro. A menina diz soluçando: - sabiá, estou te esperando. Sabiá responde de lá: - não chores, que eu vou voltar...”.
Outra música que recordo de ouvi-la cantar para mim, mas que, ao contrário dessa, só me fazia sorrir era: “... - Mulher não beba pinga que eu te dou um colar. - Colar me dá falta de ar, marido. Vamos beber pinga...”.
Ah! Como é bom recordar... Já faz uns trinta anos que saí de Rio Grande e creio que nesse tempo de afastamento já visitei minha tia umas 25 vezes (pelo menos uma vez por ano passava um mês de férias na casa dela).
Bem, dali da rodoviária, tio Sérgio deixou a Melissa no serviço dela e foi cuidar das coisas dele. Adoramos ficar sozinhas e passear pelo calçadão, olhar vitrines, conversar e dar muitas risadas.
No final da tarde encontramos meu tio novamente e aí ela proporcionou-me mais uma alegria: quando estávamos indo ao local onde estava estacionado o carro, perguntou se eu conhecia aquele homem que estava caminhando na outra calçada. Olhei e prontamente lembrei-me:
- É meu mestre: o Professor Marcos!!!!
Ele estava justamente, naquele momento, atravessando a rua para o nosso lado. Com um “empurrãozinho” da Dilma, parei em frente dele e perguntei: “- Lembra-se de mim?”.
Parou por um instante, analisando meu rosto e respondeu com um forte sotaque gaúcho:
- Mas é a Simone! Claro que me lembro de ti, guria!
Que emoção! Não dá para descrever...
Depois de conversarmos um pouco, relembrarmos os tempos do colégio e prometermos continuar conversando via Internet, despedimo-nos.
Em seguida, tia Dilma sugeriu que passássemos primeiramente na casa da filha dela, Milena, para uma rápida visitinha, apenas para a gente se ver, já que no Dia das Mães iríamos passar o domingo juntas. Milena é minha afilhada, além de prima. Foi muito bom revê-la junto com suas duas filhinhas.
Depois sugeriu visitar a tia Ignácia (tia de minha mãe que já deve estar com uns 90 anos de idade). Lá chegando, falou:
- Tia Ignácia! Trouxe uma visita para ti! Veja se conheces!
Tia Ignácia deu uma olhada em mim e rapidamente falou:
- Ah, mas é a guria da Hilma; é a Simone; a mais velha!
Ah! Quanta alegria senti naquela hora! Que abraço gostoso! Fico emocionada só de me lembrar do fato.
Depois fomos à casa da prima Vera (já fazia mais de 30 anos que não nos víamos). E aí ela tascou a mesma frase:
- Verinha! Trouxe uma visita para ti! Veja se conheces!
Verinha não me reconheceu prontamente. Deu uma olhadinha... virou a cabeça para um lado... para o outro... e finalmente, após uns dez segundos, que pareceram dez horas, ela gritou:
- Nossa! Mas é a Simone! Quanto tempo a gente não se vê! Que coisa boa!
Trocamos um abraço bem apertado e prometemos continuar conversando via Internet! Mais emoção!
Minha tia havia me falado durante nosso passeio pelo calçadão que Isa (esposa do primo Sidney) queria muito conhecer-me pessoalmente, já que nos conhecíamos apenas pela Internet. Então a tia telefonou para a Isa e convidou-a para ir à sua casa no domingo a tarde.
Pronto. Já estava exuberante de alegria. Minha tia havia me proporcionado tudo isso de bom: rever meus familiares!
Dali fomos à Praia do Cassino (que fica a uns 17 km de Rio Grande), onde mora com meu tio Sérgio e o neto Tales Marx. Tomamos banho e saímos os quatro para lanchar. Por volta das 23 horas, fomos a um barzinho com música ao vivo e com uma pequena pista de dança, que não pode faltar, é claro. Chegamos em casa já eram três horas da madrugada. Adorei meu primeiro dia!
No segundo dia, tio Sérgio levou-nos para passear na Ilha dos Marinheiros. Já conhecia, mas havia estado lá quando ainda era muito pequena, portanto não lembrava os detalhes! Naquele tempo ia-se de barco; agora já há uma ponte que une a Ilha dos Marinheiros com a cidade de Rio Grande.O passeio foi muito legal; infelizmente estava chovendo e não deu para fazer boas fotos, mas contávamos com um ótimo guia que ia nos informando tudo: tio Sérgio.
À noite fomos a uma pizzaria na Praia do Cassino: eu, primo Tales Marx, tio Sérgio, tia Dilma, prima Melissa e o marido Souza. O local estava lotado, ficamos do lado de fora uns dez minutos, esperando vagar mesa, mas valeu a pena: a pizza é ES-PE-TA-CU-LAR. E a companhia de todos? Nem se fala!!!!!
No domingo era o Dia das Mães. Voltamos a Rio Grande porque a reunião da família seria na casa da prima Miralice. Estava frio, mas a casa da Mira é muito acolhedora. Não sei se por causa do calor humano ou pelo uísque servido pelo Fernando – marido da Mira, mas o calor foi aumentando... aumentando, assim como as conversas e risadas! Ambiente muito agradável: bom churrasco, boa bebida... ótima companhia.
À tarde chegaram o primo Sidnei e esposa Isa (prima emprestada). Tarde com alegria. Tiramos muitas fotos e combinamos de colocá-las na Internet, para todos da família terem acesso.
Mesmo que não tivesse visto ninguém; mesmo que tivesse ido diretamente da rodoviária para sua casa; mesmo que ficasse lá fechada pelos três dias, sem ver ninguém, sem sair de casa... isso não teria importância porque eu estaria muito bem acompanhada: teria a alegre companhia de minha tia Dilma!
Com ela é assim: ninguém consegue ficar triste, chateado ou preocupado. Ao seu lado tudo se ilumina, transforma, se alegra. Com ela não tem baixo astral. Ela pode estar triste ou preocupada com o marido, algum filho ou neto, mas não se deixa abater e ninguém percebe sua tristeza e dor. Talvez no silêncio de seu quarto, em frente à imagem da santinha que ela tanto venera e reza... talvez aí consiga desabafar seus temores e transtornos. Ela não sabe o quanto faz de bem para as pessoas apenas com sua presença. Com sua força, que não e física, consegue unir a família, tratar todos bem e com muita atenção, sempre ajudando por completo.
Nossa ligação não é recente – ela se dá desde que eu era muito pequena. Gosto muito de recordar a estória engraçada que me conta. Diz que quase estrago o seu noivado porque sempre andava atrás dela, grudada, estávamos sempre juntas e isso causava estranheza ao tio Sérgio, seu noivo na época, que ele até perguntava: “- Escuta aqui, Dilma. Essa guria é tua filha?”.
E é por todos os motivos acima expostos que deveria existir o DIA DAS TIAS. Será que existe?
Na segunda-feira, 7 horas, sairia meu ônibus para retornar para Santa Maria. Meus tios me deram uma carona da Praia do Cassino até a rodoviária de Rio Grande. Entrei no ônibus e fiquei acenando para eles pela janela. O ônibus foi saindo e eles foram sumindo... sumindo... sempre acenando. Acenava e pensava: “- Voltarei, tia querida! Voltarei!”