Aniversário de morte

A maior dor não foi quando fui acordado as 3:40 da madrugada de um domingo -dia dos pais- e eu levantei correndo achando que era ele (havíamos brigado quatro dias antes), mas eram dois amigos o procurando, confiantes que ele estava aqui e havia emprestado sua moto à alguém, uma viatura da polícia tinha informado que houvera um acidente com uma moto na BR com uma vítima fatal e a placa da moto era a dele... Não senti mais minhas pernas, porém não caí: Não era ele, tinha certeza! Ele emprestava a moto pra qualquer um!

A maior dor não foi quando as 05h30min da manhã, indo em direção à casa de sua mãe, a encontrei com a filha na esquina dentro de um táxi desesperadas pedindo que eu fosse com elas reconhecer o corpo caído na estrada... Não é ele! Eu não vou!... A maior dor não foi ver uma mãe e uma irmã aos prantos não conseguindo socorrê-las.

A maior dor não foi caminhar 100 metros até minha casa e ligar para uma amiga pedindo socorro também e orarmos juntos ao telefone ou ligar para minha mãe, que uma hora depois (uma eternidade) estava em minha casa.

A maior dor não foi quando o irmão dele me telefonou às 11h15min da manhã dizendo que o corpo já estava vindo para Maxaranguape e o telefone caiu de minha mão com um grito misturado a gemidos e lágrimas fizeram minha mãe e nossa amiga que viera com ela, Socorro é seu nome, me abraçarem, me segurarem pra eu não cair também... Calmantes, falta de ar e entorpecimento me segurou na cama até a noite.

A maior dor não foi sair de casa às 21h30min em direção a casa da mãe dele, nem, quinze minutos depois conseguir ir até o centro de velório. A maior dor não foi entrar lá e me aproximar do caixão e vê-lo deitado entre flores como se estivesse dormindo: toquei seu rosto, segurei suas mãos arranhadas pela queda, fiz um carinho em seus cabelos tirando minha mão rapidamente, pois me assustei com a flacidez de seu crânio – ele não existia mais.

A maior dor não foi passar a noite velando-o. A maior dor não foi ver o caixão ser fechado e vislumbrar o desespero de alguns, nem tão pouco o sepultamento. A maior dor eu tinha certeza que ainda viria e seria infinita, irremediável e incomensurável, eu tinha que tentar me preparar para suportá-la, me preparar para continuar vivendo com um buraco no peito.

A maior dor chegou impiedosa a cada dia, a cada noite, a cada segundo me sufocando – Vou morrer de tristeza! - estava certo disso: não dormia mais, cochilava, não respirava mais, gemia, não sorria mais, só chorava todos os dias, 180 quando parei de contar e decidi reaprender a viver, renascer, me transformar em outra pessoa e me adaptar à minha chaga e tentar voltar a sorrir, a acreditar que viver poderia ser maravilhoso novamente, mesmo repleto de saudade e vazio, mesmo não me conformando.

Se eu sofro é porque mereço e faço disso um aprendizado diário para meu crescimento.

A maior dor não foi a morte dele, ela está no dia a dia sem ele aqui perto de mim. A maior dor que existe tem nome: SAUDADE, a melhor também: ANDERSON.

Júlio Amorim
Enviado por Júlio Amorim em 18/08/2013
Código do texto: T4439966
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