Sobre compromisso e comprometimento

Há tempos que não escrevo nada. Hoje senti a necessidade de colocar algo no papel... Falar sobre o que? A muito venho pensando sobre compromisso e comprometimento; nada sobre o bife e o ovo*. Mas algo sobre a vida, sobre as relações interpessoais, sobre como as coisas mudaram em tão pouco tempo.

Então, por falar no bife e no ovo, tempos atrás ouvi certa pessoa falando sobre a relação entre vaca e galinha, dizendo que uma dá a vida e a outra, apenas fornece o produto em prol de algo; daí, compromisso e comprometimento. Isso me ficou martelando na “caçola”. Percebi, então, o quanto as pessoas se desinteressaram umas das outras e como se intensificou o ‘eumismo’, se é que isso existe, se não existir acabei de criar, o que faz de mim um criador. Mas essa não é a questão.

O fato é que as pessoas estão, mais acentuadamente, centradas em si mesmas e desinteressadas pelas outras...

Vejam o que eu pensei e sigam meu raciocínio. Sou o quarto filho de nove filhos (é que naquele tempo não havia televisão em todas as casas). Com isso quero dizer que pelo menos três nascimentos acompanhei de perto, na família, não o parto propriamente dito, mas o antes e o depois disso. Sem contar os que acompanhei fora do meu meio familiar... Diante desse acontecimento, o nascimento de uma criança, víamos a maior parte das pessoas mais próximas, vizinhos e parentes, se envolverem, se solidarizarem com o evento. Havia as visitas (no sentido de acolhimento de mais uma pessoa na sociedade), as preocupações com as necessidades (materiais ou não), com o recém-nascido, ou recém nascida, com a mãe, enfim, com a família... Vinha gente da cidade cuidar de quem morava no sítio e vice-versa, e ficavam todo o período de dieta. Sinceramente não entendia por que minha mãe se afastava tanto tempo de nós quando um parente ou águem da redondeza dava a luz...

Não raramente presenciei as visitas se oferecerem para lavar as roupas, para fazerem o alimento da família. Essa era uma forma de presentear e de fazer que as coisas seguissem o ritmo normal da vida. Hoje quando muito nos envolvemos é levar umas fraldinhas xexelentas, daquelas que causam alergias, num tal de chá de fraldas ou uma visitinha relâmpago na maternidade para mentir dizendo que a criança é linda...

Hoje, poucos anos depois, sou pai, tenho filhos e, lógico, acompanhei, com minha esposa, dois períodos de gravidez e, consequentemente, dois partos. Não que seja saudosista, mas não vi nem por parte dos parentes próximos, nem tampouco por vizinhos, o que presenciei outrora numa situação semelhante. Pareceu-me que, atualmente, a gente tem que pedir de certa forma implorar, por uma ajuda que todos veem que precisamos. A outra pessoa bem que vê, porém pensa: “se me pedirem eu faço, mas não vou me oferecer mesmo!”; não tem mais aquela preocupação em estender a mão, em oferecer ajuda, em doar um pouco de tempo, de atenção e de serviço... aliás, nem as visitações, que são tão simbólicas, acontecem mais. Nem parece que o recém-chegado é bem vindo...

José Delfino Neto
Enviado por José Delfino Neto em 18/08/2013
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