Ipads e Iphones: nova geração de pais e filhos.

Eu estava presente em uma sala de espera onde poucos ali presentes se faziam. Minha consulta era apenas às onze e, como cheguei com antecedência, ganhei alguns minutinhos que seriam dedicados ao ócio. Levei um livro de penal com a pretensão de lhe dar um mínimo de atenção, mas, feliz ou infelizmente outras coisas me chamaram a atenção.

A primeira coisa para qual minha atenção se voltou foi a figura de um pai e um filha, sentados em um sofá paralelo a minha poltrona acolchoada. Ele vestia uma camisa social com listras pretas, jeans e sapatos que tentam passar o ar de seriedade, tão exigido pela sociedade. Algo destoava, acho que eram os óculos escuros em sua cabeça com poucos fios de cabelo - nada contra, mas parece que mesmo através de roupas sérias, difícil é esconder seus verdadeiros gostos. E tinha a menina. Uma típica criança de sete anos, que se encontra no auge da fofura: bochechinhas fofas e gorduchas, shortinho, blusinha floral e usava um chinelinho que deixava seus dedinhos fofos e pequeninos a mostra.

Provavelmente, aquele pai havia saído mais cedo do trabalho para levá-la ao dentista e a menino faltado à escola - ou talvez estudasse a tarde, vai saber... Pois bem, a visão de um pai com sua filha geralmente me parece algo docemente encantador. Mas, dessa vez, na pequena e gélida ante sala, senti uma redução no encanto. Tenho que admitir, sou um pouco avessa ao excesso de tecnologia, então, desculpem-me os amantes da "arte". Enquanto a menina contraia a face em sinal de concentração voltada a uma não pequena telinha iluminada e colorida, chamada de ipad, seu pai olhava para a telinha -um pouco menor- de seu iphone e com a mesma concentração de sua filha.

Após visualizar aquele cenário, tentei, inutilmente, voltar-me para as excludentes de ilicitude, mas o êxito por mim não fora alcançado. Comecei a pensar em outra cena, de outro tempo, onde o pai era meu pai e a menina, era eu. Definitivamente, a situação era diversa dessa. Meu pai sempre gostou de ler de tudo -carros, animais, curiosidades, psicologia, enfim - e acontecia que, enquanto esperávamos em salas assim, ele sempre levava consigo uma revista em mãos. Eu brincava com uma boneca ou via televisão, mas nada contínuo, visto que ele sempre me chamava atenção para alguma coisa que havia lido e apreciado.

Sempre gostei de esperar em salinhas pela hora da consulta, nunca achei perda de tempo, talvez devido a meu pai. De repente, volto para o livro "conflito entre dois bens tutelados juridicamente". Não resisto, dou uma checada rápida para o pai e sua filha. Houve uma aproximação. Ela mostrava seu ipad e franzia o rosto em sinal de dúvida. Ele deixou seu iphone de lado e pegou o ipad da garota, deslizando seu dedo para cima e para baixo com rapidez, dizendo repetidas vezes "não é nada disso". A menina olhava como quem olhava para um quadro cheio de fórmulas de físicas, em nítida confusão. Ele não olhava muito para ela, então acho que não percebeu. Finalmente, eles foram chamados. Maria Fernanda entrou primeiro e seu pai a seguiu. E eu, apenas me voltei para o "estado de necessidade".

mmmalencar
Enviado por mmmalencar em 17/08/2013
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