Consumismo delirante
Não sou de assistir à Sessão da tarde, pois, de um modo geral, acho os filmes bem chatinhos. Porém, um dia desses resolvi assistir Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, exibido pela décima vez, acredito, mas eu ainda não tinha tido a oportunidade de ver. Li o livro que deu origem ao filme e me diverti à beça. A história de Rebecca Bloom, a Beck, que vive atolada em dívidas, foge dos credores igual ao diabo da cruz, e não resiste a uma promoção, é o retrato da sociedade atual. Seu lema é comprar, comprar, comprar. Ou seria, dever, dever, dever?
Depois que o filme terminou, fiquei pensando nessa coisa do consumismo que afeta tanto a vida das pessoas. A minha, inclusive, porque já caí muitas vezes em tentação e me ferrei toda. Hoje, apesar de fazer algumas bobagens de vez em quando, não chego a ser compulsiva. Sei que sou capaz de voltar pra casa sem nenhuma sacola de loja sem me sentir infeliz. Mas é preciso estar atenta e não deixar de refletir sobre isso.
O que leva uma pessoa a comprar compulsivamente? Por que as mulheres, principalmente, ficam tão alucinadas diante de uma vitrine? Não importa se a vitrine é de roupas, calçados, bolsas, jóias ou bijuterias, elas enlouquecem. Vitrines de maquiagens, de decoração, de utilidades para o lar, de brinquedos (quando têm filhos pequenos), elas também não resistem. Nos shoppings, aquela faixa das vitrines com a expressão For Sale as deixa completamente sem noção. Sem noção do quanto ganham, do quanto já devem, do quanto vão aumentar a dívida: “Penso nisso depois. Vou levar.”, é o único pensamento que lhes vem à cabeça, afinal é preço de liquidação.
Há homens também muito consumistas, embora eu acredite que a maioria tenha mais controle sobre esses impulsos devido à própria natureza masculina que é de ser mais prática e mais programada. Os homens não se apaixonam facilmente por uma camisa ou por uma calça, por exemplo, como as mulheres se apaixonam por um vestido ou por um par de sapatos e uma bolsa. Se eles acharem que precisam, compram, se não, continuam usando a velha e boa camisa que já está com o colarinho esgarçando, e pronto. Já a maioria das mulheres, ainda que não precise, compra assim mesmo, e torna-se um perigo com um cartão de crédito (ou vários) nas mãos. Cartões de crédito são armas com enorme poder de destruição: destroem o orçamento, o sono, e muitas vezes até relacionamentos. Quando os dois não são bem administrados, claro.
Há diversas teorias que tentam explicar esse tipo de comportamento compulsivo e, geralmente, atribuem-se a causas psicológicas e emocionais. Dizem os especialistas, principalmente os psicólogos, que pessoas viciadas em consumo apresentam alguma carência afetiva e, portanto, tentam preencher essa carência consumindo sem medida, não só roupas e objetos diversos, mas também comida. Também dizem que grande parte dos consumidores compulsivos passou por dificuldades financeiras e privações diversas em algum momento de suas vidas. Quando se veem numa situação econômica mais favorável querem compensar tudo o que não tiveram. Outros compulsivos são pessoas que sofrem de ansiedade e só se sentem mais calmas e relaxadas quando compram. O problema é que conseguem relaxar por algum tempo, mas a ansiedade volta, aí compram de novo, relaxam, vem novamente a ansiedade e a coisa não para, torna-se um círculo vicioso. Parece que o efeito é muito semelhante ao que o dependente químico sente em relação à droga: fica fissurado, usa, relaxa, fica fissurado, usa, relaxa, fica fissurado...e por aí vai. Também há os que se sentem inferiorizados diante de amigos e/ou parentes bem-sucedidos e, para “atingirem” o mesmo padrão, procuram consumir além do seu poder de compra - são os que vivem de aparência.
Como vimos, são muitas as causas desse distúrbio, o consumismo compulsivo. Às vezes, a coisa é tão grave que só mesmo uma boa terapia para ajudar a resolver.
Sabendo disso, que existem tantas pessoas “doentes” por aí, as instituições financeiras, a mídia e as lojas se utilizam das mais diversas estratégias para atraí-las:
Compre sua legítima Louis Vuitton e pague em dez vezes sem juros no cartão.
“O quê?! Meu sonho de bolsa em dez vezes sem juros?! Vou comprar”.
Ou então:
Leve dois e pague um: casacos de pele de rena do Alasca, por apenas R$ 500,00.
“Nossa, dois casacos de pele por essa bagatela?! Já são meus”.
Eu só queria entender o que uma pessoa vai fazer com dois casacos de pele de rena, morando no Rio de Janeiro onde é verão durante quase todo o ano. Mas, a maluca justifica:
“Ah, se um dia eu viajar para a Europa, já terei os casacos”.
Isso é loucura (e crime ambiental).
Como se vê, as delirantes estão por aí, não só nas páginas de um livro ou nas telas do cinema e da tevê. Gente que gasta o que tem e o que não tem para satisfazer seus desejos, conscientes ou inconscientes, e tornam-se vítimas de uma cultura perversa e alienante: o consumismo.
Evolução dos tempos, dizem. Será?
Não sou de assistir à Sessão da tarde, pois, de um modo geral, acho os filmes bem chatinhos. Porém, um dia desses resolvi assistir Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, exibido pela décima vez, acredito, mas eu ainda não tinha tido a oportunidade de ver. Li o livro que deu origem ao filme e me diverti à beça. A história de Rebecca Bloom, a Beck, que vive atolada em dívidas, foge dos credores igual ao diabo da cruz, e não resiste a uma promoção, é o retrato da sociedade atual. Seu lema é comprar, comprar, comprar. Ou seria, dever, dever, dever?
Depois que o filme terminou, fiquei pensando nessa coisa do consumismo que afeta tanto a vida das pessoas. A minha, inclusive, porque já caí muitas vezes em tentação e me ferrei toda. Hoje, apesar de fazer algumas bobagens de vez em quando, não chego a ser compulsiva. Sei que sou capaz de voltar pra casa sem nenhuma sacola de loja sem me sentir infeliz. Mas é preciso estar atenta e não deixar de refletir sobre isso.
O que leva uma pessoa a comprar compulsivamente? Por que as mulheres, principalmente, ficam tão alucinadas diante de uma vitrine? Não importa se a vitrine é de roupas, calçados, bolsas, jóias ou bijuterias, elas enlouquecem. Vitrines de maquiagens, de decoração, de utilidades para o lar, de brinquedos (quando têm filhos pequenos), elas também não resistem. Nos shoppings, aquela faixa das vitrines com a expressão For Sale as deixa completamente sem noção. Sem noção do quanto ganham, do quanto já devem, do quanto vão aumentar a dívida: “Penso nisso depois. Vou levar.”, é o único pensamento que lhes vem à cabeça, afinal é preço de liquidação.
Há homens também muito consumistas, embora eu acredite que a maioria tenha mais controle sobre esses impulsos devido à própria natureza masculina que é de ser mais prática e mais programada. Os homens não se apaixonam facilmente por uma camisa ou por uma calça, por exemplo, como as mulheres se apaixonam por um vestido ou por um par de sapatos e uma bolsa. Se eles acharem que precisam, compram, se não, continuam usando a velha e boa camisa que já está com o colarinho esgarçando, e pronto. Já a maioria das mulheres, ainda que não precise, compra assim mesmo, e torna-se um perigo com um cartão de crédito (ou vários) nas mãos. Cartões de crédito são armas com enorme poder de destruição: destroem o orçamento, o sono, e muitas vezes até relacionamentos. Quando os dois não são bem administrados, claro.
Há diversas teorias que tentam explicar esse tipo de comportamento compulsivo e, geralmente, atribuem-se a causas psicológicas e emocionais. Dizem os especialistas, principalmente os psicólogos, que pessoas viciadas em consumo apresentam alguma carência afetiva e, portanto, tentam preencher essa carência consumindo sem medida, não só roupas e objetos diversos, mas também comida. Também dizem que grande parte dos consumidores compulsivos passou por dificuldades financeiras e privações diversas em algum momento de suas vidas. Quando se veem numa situação econômica mais favorável querem compensar tudo o que não tiveram. Outros compulsivos são pessoas que sofrem de ansiedade e só se sentem mais calmas e relaxadas quando compram. O problema é que conseguem relaxar por algum tempo, mas a ansiedade volta, aí compram de novo, relaxam, vem novamente a ansiedade e a coisa não para, torna-se um círculo vicioso. Parece que o efeito é muito semelhante ao que o dependente químico sente em relação à droga: fica fissurado, usa, relaxa, fica fissurado, usa, relaxa, fica fissurado...e por aí vai. Também há os que se sentem inferiorizados diante de amigos e/ou parentes bem-sucedidos e, para “atingirem” o mesmo padrão, procuram consumir além do seu poder de compra - são os que vivem de aparência.
Como vimos, são muitas as causas desse distúrbio, o consumismo compulsivo. Às vezes, a coisa é tão grave que só mesmo uma boa terapia para ajudar a resolver.
Sabendo disso, que existem tantas pessoas “doentes” por aí, as instituições financeiras, a mídia e as lojas se utilizam das mais diversas estratégias para atraí-las:
Compre sua legítima Louis Vuitton e pague em dez vezes sem juros no cartão.
“O quê?! Meu sonho de bolsa em dez vezes sem juros?! Vou comprar”.
Ou então:
Leve dois e pague um: casacos de pele de rena do Alasca, por apenas R$ 500,00.
“Nossa, dois casacos de pele por essa bagatela?! Já são meus”.
Eu só queria entender o que uma pessoa vai fazer com dois casacos de pele de rena, morando no Rio de Janeiro onde é verão durante quase todo o ano. Mas, a maluca justifica:
“Ah, se um dia eu viajar para a Europa, já terei os casacos”.
Isso é loucura (e crime ambiental).
Como se vê, as delirantes estão por aí, não só nas páginas de um livro ou nas telas do cinema e da tevê. Gente que gasta o que tem e o que não tem para satisfazer seus desejos, conscientes ou inconscientes, e tornam-se vítimas de uma cultura perversa e alienante: o consumismo.
Evolução dos tempos, dizem. Será?