Conexões
Meados dos anos 90. O piazão tinha 16 anos. Vivia na internet, discada é claro. Varava noites regadas a mIRC e CS.
Também deixava dias uma música baixando sob míseros 56k.Tamanha exiguidade que as informações a serem buscadas na rede passavam por um crivo, cuja necessidade não existe mais.
O rapaz estudou. Queria arrumar um bom emprego na área de informática, que já se mostrava auspiciosa naquele pequeno município cheio de morros e prédios. Mal sabia ele que, em tempos atuais, teria seu próprio negócio. Uma empresa de software.
Assim como ele, outros amigos e conhecidos também se deram bem no ramo.
Mas a tecnologia hodierna andava lhe intrigando. Sentia-se preterido pelo filho, de oito anos, quando qualquer dispositivo eletrônico estava por perto. Mas não achava isso necessariamente ruim, ainda mais quando via a cria mostrando ampla habilidade com as máquinas. O pai sentia uma espécie de conforto por cogitar que a criança já estivesse dando sinais de continuidade do negócio. “Graças ao computador, hoje sustento uma família...”
- Vem jantar, filho.
O menino ouvia, mas não respondia. Com os olhos e as mãos grudadas no tablet corria para a cozinha.
O pai ia atrás, com um sorriso indeciso no canto dos lábios. A esposa, advogada, havia preparado um jantar leve, a base de filé de peixe.
A criança comia e brincava ao mesmo tempo. O pai não mais o repreendia. "Essas crianças de hoje em dia...”
A mãe até que intervinha.
- Chega de brincar com esse joguinho, filho. É hora de comer.
Ele obedecia. Mas, quando via a mãe com o celular na mão, sentia-se no direito de também voltar a brincar, entremeio a garfadas rápidas e desajeitadas.
Iriam assistir um pouco de tevê juntos e, talvez, jogar algo até, no máximo, onze e meia. Todos acordavam cedo. Os estudos e os negócios iam bem. Era a vida que seguia. De forma moderna e ao mesmo tempo atemporal.