Bloco da Incredulidade
Diante de todas essas manifestações populares que começaram a eclodir a partir da metade deste ano, o que impressiona a gente é a total ausência de novidades ou respostas positivas por parte de nossos governantes. Atitudes, procedimentos, decisões, acolhimento às reivindicações da população e até projetos que poderiam decorrer dessas reivindicações – tudo praticamente não se modificou. Ao contrário, descaradamente nos são apresentadas manobras e providências em completa dissonância com o que esperávamos que nos fosse oferecido. O que implica na continuidade dos protestos e até na sua radicalização, em que pese a redução do número de participantes.
Como é possível autoridades municipais não agirem no sentido de que a CPI dos ônibus seja presidida pelo vereador que a sugeriu ou precipitou?
Como é possível autoridades policiais admitirem ou sugerirem como comprovadamente factível o assassinato de quatro pessoas da mesma família por um menino de apenas treze anos? Que depois deu cabo à própria vida? Talvez nem mesmo nos Estados Unidos, discutível referência para muitos brasileiros, isso já aconteceu.
Como é possível permanecer sem explicação, por mais de um mês, o desaparecimento de uma pessoa (será que favelado pode?) detida pela polícia e depois liberada por falta de justificativas para a sua detenção?
Como é possível autoridades federais alardearem a redução da inflação e admitirem, ao mesmo tempo, o aumento da gasolina, quando se sabe que esse é um dos fatores determinantes na majoração dos índices inflacionários?
Como é possível pensarmos na possibilidade de que não tenham culpa nenhuma os réus do Mensalão depois de centenas de páginas do processo, depois de centenas de depoimentos prestados, depois da ampla defesa aos réus oferecida, depois das inúmeras sessões de julgamento, depois dos livros e artigos escritos sobre o ato jurídico e depois de mais de um ano inteiro da sua duração?
Evidentemente tais perguntas serão de pronto respondidas por quem de direito. Com respostas que eles sabem que não nos vão convencer. Mas que são aquelas em que deveríamos acreditar. Pressupondo-se que eles tenham o direito de saber mais que a gente.
Serão também respostas que nos deixarão incrédulos e confusos, já que algumas delas não têm a mínima chance de corresponder à realidade dos fatos. Do que se pode concluir que tenham sido oferecidas apenas com a finalidade de nos enganar.
E assim prosseguimos. De plantão com a bandeira da incredulidade nas mãos.
Esperamos que esse desfile pelas ruas do Rio não ocorra todo dia, se não for necessário. Que ele seja ao menos anual, como o Carnaval.
Rio, 16/08/2013