A GÉLIDA MARCHA RUMO AO TRIUNFO
Catorze de janeiro de 2013. O meu relógio marcava exatamente 15h22min quando eu e minha esposa, em pleno o implacável inverno parisiense, deixamos o hotel e esboçamos cuidadosamente nossos primeiros passos pela rua Boulevard Grenelle rumo ao monumento que, simbolicamente, acomoda com patriotismo vitórias arrancadas em batalhas militares. Nosso alvo (não bélico) era o notável Arco do Triunfo.
Caminhando contra o vento - mas com lenço e documento, afinal, éramos dois turistas tupiniquins em terra estrangeira - e testemunhando o espetáculo de neves que a cidade ostentava, travamos uma verdadeira batalha contra a gélida tarde de terça-feira. Pelas ruas e transversais, volta e meia nos deparávamos com pessoas de todo o mundo: japoneses, holandeses, americanos, brasileiros, italianos, angolanos, argelinos e, claro, franceses; estes, comumente saboreando o famoso pão baguete.
Foi a primeira vez que aportamos em Paris, a cidade luz - celeiro de intelectuais inspirados pela filosofia iluminista. Em cada esquina, um palácio imponente, um museu imperioso, um monumento histórico. Assim, ao longo da caminhada, fomos testemunhas do poderio cultural que a cidade orgulhosamente dispõe. Mas, em meio a tantos símbolos históricos dignos de louvor, o termômetro marcava -4ºC. Nessa condição, difícil era contemplar com calma a beleza da cidade. As pessoas caminhavam meio com pressa, como se estivessem fugindo do frio.
Contudo, notamos que o inverno francês é também um espetáculo da moda a céu aberto. Pelas ruas, as tendências do mundo fashion são explicitamente ostentadas pelos parisienses que traduzem na forma de se vestir as principais coleções da estação. Grifes sofisticadas como Louis Vuitton, Calvin Klein, Gucci, Armani, Colcci, Dior, Chanel, Dolce e Cabana... passam a fazer parte do cenário urbano. Com todo esse “visual fashion”, o frio inexorável se apresentava como um forte adversário ao nosso destino. Mas não recuamos. Continuamos nossa marcha.
Ao chegarmos a uma das principais atrações da cidade, a colossal Torre Eiffel, registramos indícios do subemprego: angolanos comercializando lembrancinhas parisienses na luta para obter alguns euros. Um contraste social no seio da cidade que outrora foi palco da revolução que derrubou o autoritarismo absolutista, em nome dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Todavia, um fator era comum em todos esses momentos: o frio!
Uma trégua nos foi dada quando tomamos um ônibus nos arredores da torre para chegarmos mais rápido ao nosso destino. Durante os poucos minutos de espera, pudemos notar um diferencial tecnológico espetacular: na guarita do ponto de parada havia um relógio que informava quantos minutos faltavam para chegar o coletivo que esperávamos. Ele chegou após seis minutos de espera. Já dentro do transporte, notamos, ao longo da viagem, o quão vantajoso é viver numa cidade verdadeiramente organizada: ônibus e carros circulando sem problemas, avenidas limpas e desprovidas de buracos, trânsito sem engarrafamentos e buzinaços, pedestres e ciclistas transitando com segurança em suas devidas áreas... Ao contrário de muitas cidades, a mobilidade urbana aqui é fácil e de qualidade.
Foi através dessa facilidade em se locomover em vias urbanas que chegamos à Praça Charles de Gaulle, onde descemos do ônibus e logo avistamos o monumental Arco do Triunfo. O clima gelado persistia e, já próximos do destino, voltamos a marchar bravamente em sua direção. Até que, às 16h03min, chegamos. Conversamos com várias pessoas e constatamos que turistas de diversas partes do mundo estavam ali fotografando, pesquisando, contemplando, refletindo...felizes. Assim, após a batalha contra uma temperatura adversa, triunfamos em nossa gélida marcha.
Em suma, a nossa visita inédita se deu nesse contexto. Foi uma experiência através da qual notamos os franceses com suas manias cotidianas, sua relação com a herança cultural e sua auto estima elevada fruto de sua história e qualidade de vida invejável.