MATUNGOS INVISÍVEIS
Pela rua Taquari ia a corda dobrando a esquina, ia, ia até sumir. A corda não cumpria horário, não tinha data certa e nem tempo, aparecia e desaparecia, sempre na mesma velocidade, uns dias mais cumprida outros não, de várias espessuras e tonalidades, uns pedaços mais novos outros mais velhos. Os nós grosseiros formavam bolas disformes.
Um dia lá por 1963 testemunhei que a corda andava mais de 10 Km distante de seu território, circulava pela Cavalhada. Para nós era uma corda qualquer que do outro lado era arrastada pelo Galeno Louco, pois assim as pessoas o chamavam. Para ele, o Galeno, do outro lado havia um cavalo. Crianças malditas amarravam a corda no poste e o coitado dizia, dizia, vamos cavalo e nada, até que ele voltava e os malditos caiam em gargalhada, então Galeno apanhava a primeira pedra que encontrava e arremessava para depois soltar a corda seguir a sina de puxar o matungo invisível.
Uma década depois Galeno já mais velho e o matungo também usava roupas cinzas na mesma cor das fornecidas pelo São Pedro, não o do céu, mas o do Partenon, Partenon não o de Atenas, mas o de Porto Alegre. Galeno tinha como território o quadrilátero formado pela São Manoel e São Francisco e respectivas transversais até a rua Vicente da Fontoura, hoje certamente esta cuidando dos matungos lá de cima, também não poderia ser diferente com tantos santos na sua volta.