Uma Surpresa!
Era uma tarde causticante de sol e a Rua Osvaldo Cruz – Rua Grande – estava movimentadíssima. Terça-feira foi, mais precisamente, o dia da semana em que ocorreu aquele fato, para mim incrível.
Eu procurava alguma coisa para comprar. Se não me engano, um jogo de xadrez. Sim agora me lembro: um jogo de xadrez. Comecei a procura do jogo desde a proximidade da Secretaria de Educação do Estado.
Já havia entrado em algumas casas comerciais sem sucesso e eis que, em uma das calçadas da rua encontrei uma companheira de Doutrina que há algumas semanas eu não a via. Foi grande a satisfação ao encontrá-la.
Conversamos animadamente por alguns minutos e ela me informou que vinha há muito tempo à procura de emprego e ainda não havia encontrado. Pelo que conheço desta querida amiga ela realmente andava bastante necessitada de um trabalho que, pelo menos, lhe suavizasse a crítica situação.
Despedimo-nos fraternalmente e depois de alguns passos seguindo o mesmo caminho, alguém me estende a mão, solicitando uma esmola. Fiquei envergonhado por não atender de imediato a pessoa e meti a mão no bolso, encontrando algumas
moedas que foram depositadas nas mãos trêmulas daquela senhora que me agradeceu a dádiva.
Ia saindo novamente, seguindo o curso da minha viagem, quando me voltei outra vez para aquela senhora e indaguei:
- Por que não passa para o outro lado da calçada, pois lá está fazendo sombra e o sol aqui está muito quente? (da sua testa escorria abundante suor).
- Eu não posso passar para o lado de lá–disse ela-, porque aquele moço não quer que eu fique daquele lado. – E apontou para o outro lado da calçada.
Virei-me para que pudesse identificar o “cavalheiro” que impedia que a senhora dali saísse e não consegui identificar quem era a pessoa.
Observei melhor e o que me apareceu diante dos olhos, apesar do enorme movimento da rua, foram um guarda de trânsito e uma casa de estilo antigo, parecendo funcionar ali um escritório.
Não entendendo se a proibição havia partido do guarda de trânsito, ou do gerente ou dono do escritório, voltei-me, mais uma vez, à senhora e perguntei:
- Senhora,quem é que não quer que a senhora fique do lado de lá é aquele guarda de trânsito ou alguém que trabalha naquele escritório?
A senhora me olhou de modo interrogativo e arrematou:
- Meu amigo, é aquele velho pedinte que está atrás daquele carro!
Estiquei-me um pouco e percebi um senhor idoso, negro, de chapéu na cabeça, magro, estatura mediana que também estendia a mão aos transeuntes.
Não pude esconder a surpresa! E que surpresa! Nunca me passou pela cabeça, naquela época, que houvesse disputa, briga e concorrência entre os pedintes, pelo menos aqui em São Luís. Fiquei realmente abobalhado!
Dias depois, comentando este episódio com alguns amigos eles disseram que isto sempre ocorreu e que eu ainda
precisava aprender muito!
É, realmente, eu precisava aprender muito!