LUZES E SOMBRAS
O meu pensamento iluminou-se momentaneamente com a claridade que invadiu os meus neurónios. Imaginei-me num Mundo puro, em que a quietude e silêncio do momento, me davam esperanças de um futuro de Paz e Reconciliação. Não nos meus dias, mas dos meus descendentes, acreditei que aquelas luzes que se acenderam, haveriam de perdurar. Fiz então projectos, construi a minha vida com objectivos e dei forma aos meus patrimónios material e familiar, cumprindo com as regras impostas pelos meus direitos, respeitando os direitos de terceiros. Pura ilusão... Tudo não passou duma sensação transitória e de impotência pela concretização dos meus objectivos.
Bruscamente, as luzes foram-se desvanecendo, acabando por me mergulhar num ambiente surreal de sombras. De princípio, não querendo crer nessa nova verdade, subsistiram dúvidas se não seria apenas um pesadelo passageiro. Enganei-me. As piores consequências atingiram-me irremediavelmente, não me dando qualquer margem para me recompor e recuperar da catástrofe. As forças do mal tinham apagado as luzes e mergulharam-me na escuridão, desde há 34 anos, que me parecem séculos. Não mais me foi possível ter acesso à livre iniciativa, ao espírito criativo e à passagem do testemunho do meu património material aos meus legítimos herdeiros. Com o apagar das luzes e o emergir da escuridão, fui desvalorizado, passei humilhações e apenas me restou a recordação do passado e o orgulho do dever cumprido, sem a merecida compensação.
Ruy Serrano, 28/12/2010, do Livro EPICENTRO