Paranormal - fim de uma vida
Naquele dia, ele não sabia o que fazer. Quando acordou, a vida já tinha se despedido dele. E, sem ele, a vida era nada. E, sem a vida, ele era nada.
Levantou-se sem esperança de viver, andar, respirar. Mas viveu, andou e respirou. E agora, o que fazer com a vida que ainda insistia em residir-lhe inesperadamente e subitamente, despropositadamente.
Ele passou a sentir-se assim depois daquele dia em que ela, pensa ele, deu sinal de que ele teria alguma chance. Contudo, ele não tinha certeza de que, de fato, ela dera algum sinal. É que, às vezes, o coração quer nos fazer enxergar algumas coisas que nunca existiram na realidade. E, se tiverem existido, nada mais foram do que uma vontade inconsequente e do que um devaneio desprovido de coerência e verossimilhança com a real quimera imaginada.
Era tolice querer pensar em fazer aquilo. Se ele fizesse, o que seria do conteúdo dele como pessoa ética? Certo que ele, porém, não tinha muita afinidade com a ética. Achava isso um discurso da elite dominante apenas com fins de controlar a massa alienada e manipulada por tudo: novelas, mercado, propaganda, escola, indústria... A vida, entretanto, não era apenas isso. A complexidade lha é inerente.
Mas eu não sabia que ele estava passando por tudo isso. Tudo isso é, todavia, um nada que consegue reunir em torno de si autopiedade suficiente para fazê-lo ter vaidade presente para ter dó de si mesmo. Que ridículo. Que estúpido!
É falta do que fazer. Ou melhor, ele tem o que fazer mas fica deixando de cumprir os compromissos que faz consigo mesmo. E eu fico a observar somente. Sem fazer mais nem menos. Para quem sabe a diferença entre mais e mas, digo: parabéns por sua “genialidade”. Você é realmente muito inteligente. Detentor de um conhecimento louvável e ora admirável ante a estupidez e alienação dos mentecaptos que residem neste lugar chamado planeta terra. O qual, por sinal, faz-se mal quando pensa que é igual a tudo que cheira mal ou que é teatral como se feito fosse no manguezal irrigado pelo petróleo do Pré-sal, que não tem nada de normal, mas que não se ver nem sequer no colegial, instituído pelo genial marechal que outrora residia em meu quintal situado no cipoal em que envolve as sedes do lamaçal da terra de temporal anormal de onde surge toda a água mineral que abastece o manancial que irriga o milharal que infesta o ritual feito durante nosso luau que é mais do que especial toda vez que o fazemos ao lado do laranjal que inunda a vida de alguém que, no mínimo, é sobrenatural por sempre querer falar coisas que lê no jornal matinal que segue o ordinal semanal do Sítio Carnaubal, em época de carnaval quando ocorre o grande festival onde ele, ao fim e ao cabo, passa mal, esquece de tudo, apaga e vê o próprio funeral num dia que não é de jeito nenhum caricatural.
Moizéis Lima da Silva, 15 de agosto de 2013.