A Lua.

Quando nem mais o silencio teve importância , e as luzes pararam de brilhar.

As estrelas perderam seus encantos e a lua se tornou opaca e escura.

Quando as palavras se emudeceram , da alma perdeu-se o som... apenas os olhos choraram.

Era fria noite de agosto , madrugada gélida e sem sentido.

E por mais que me esforçasse para acreditar ainda nos contos , os dias se transformavam em lamentos, as horas em sofrimento infinito.

Oh lua, divina musa de antigos encantos e sonhos e planos, dizei-me lua o quanto me resta ? O muito ainda dessa dor devo sangrar até que frio se torne minhas mãos e estáticos meus movimentos?

Não podes, oh lua de outrora apaixonados por fim à esse tormento ? Não podes levar-me no brilho de uma estrela , talvez para o infinito do esquecimento até que as lembranças de minha dor desapareçam?

Dizei-me lua : o quanta dor devo suportar até que se cale meus versos e enrijeça minha voz? Que minha dor finde minha alma vazia , sem luz, sem cor , sem nada.

Arremessa sobre as águas a moeda paga do barqueiro da morte , tu que da vida me arrancaste, entregai-me à Caronte e à suas águas frias.

Atendei-me lua e levai meu corpo , minha dor que sangra se esvazie e eu me cale, posto que dos olhos roubaste minha luz e deixaste , tão somente, infindas e mórbidas lágrimas que lentamente me consomem .

Que do Olimpo Zeus se constranja com minha morte em vida e não lance sobre mim a maldição de Prometeu acorrentado, a sangrar e a chorar tantas vidas, tantas perdas, tanta dor.

Arrancai de minha lança o pendão que outrora, estandarte de minhas glórias hoje me arrasta ao infortúnio de uma existência oca e estéril.

Baluarte maldito de fúnebres conceitos e falas, fui pouco alem de versos tortos ,que encantaste à poucos consumindo em tristes e gélidas madrugadas , fazendo de mim autor de meu próprio canto funeral.

Cegai Osíris e seus olhos para que não veja aos meus que sangram, derramam-se em infinitas lágrimas, infinda dor e lançai sobre mim a maldição do caminhar errante e sem pouso. Arrancai de Hórus esquerdo olho para que, sem ele pereça toda a sabedoria translúcida de uma vida vazia.

Deixai-me lua sem brilho,sem sonho, sem nada.

JAlmeida
Enviado por JAlmeida em 15/08/2013
Código do texto: T4435014
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.