A loucura do camareiro

 
Por sorte, já tive a oportunidade de ir algumas vezes a Roma. Numa dessas viagens quando eu era jovem e estava com minha tia, nos hospedamos em um hotel que ficava num belíssimo prédio antigo. Nosso quarto era espaçoso, com duas janelas de enormes venezianas. Como fazia um calor sufocante, depois de perambularmos pela cidade, após o almoço sempre voltávamos ao hotel para descansar um pouco. E todas as tardes acontecia a mesma coisa: assim que chegávamos ao quarto, batiam à porta. Era o camareiro, senhor de meia idade, uniformizado, que vinha fechar as janelas. Ele fechava, fazia uma reverência, saía e eu as abria de novo. Lá pelo terceiro ou quarto dia, inconformada, perguntei por que ele tinha que fazer aquilo, já que estávamos em pleno verão. Para não ‘entrare caldo’, respondeu-me ele todo empertigado. Morri de rir, achei uma loucura!

 Só agora, passados tantos anos, comecei a compreender a loucura do camareiro. Os quartos da casa em que vivo atualmente são batedeiras de sol, se não fecharmos as janelas lá pelas quatro da tarde, no verão, à noite eles viram um forno. Além disso, em Roma o clima é diferente. Na época do calor as noites continuam quase tão quentes quanto os dias, o ar não refresca como aqui.

Por isso, vivo brincando. Hoje mesmo, com esse frio danado, ao fechar as portas que dão para o terraço, fui dizendo ‘pra não entrare freddo, pra não entrare freddo’...

E na França já vi muitas vezes avisos escritos até em portas de trens: “Attention! Porte fermé, chaleur conservé”.