PARABÉNS
Dia quinze de agosto. Meu aniversário. Seis ponto um, vou afirmando a quem me pergunta quantos anos estou fazendo. Risos, brincadeiras, abraços, parabéns, telefonemas. Amigos de ontem, amigos de hoje, parentes distantes, parentes presentes, com telefonemas, cumprimentos, lembrancinhas e desejos de muitos anos de vida. Eu, feliz, sorrio, canto e danço. Falo alto, disfarço bem. Meus olhos percorrem a casa, o entra e sai de gente. Uma expectativa. As horas passando. A cada um que chega o “parabéns” é cantado, novamente apago a vela. Somente uma, sem número. Meus cabelos brancos já dizem dos tantos anos. Cantamos, comemos, rimos. Meu olhar ainda dança pelas pessoas, pela casa, em busca de um abraço, um cumprimento, um beijo, um sorriso que seja, de alguém especial. O relógio inflexível, com seu tique-taque marcando tempo. O sol se põe. Cessam os ruídos. Todos já se foram. E eu fico aguardando. Afinal são vinte e três horas e treze minutos. Escrevo, dando tempo ao tempo. Talvez ainda haja tempo. Talvez não espere em vão. O cavaquinho chora lá no quarto. As notas vão formando riscos no meu coração e gotejam amargura. Sei que ele dedilha alegre, ou pelo menos penso que sim. Escrevo e espero. Agora cessou a música. Paro de respirar. O tique-taque do meu coração faz coro com o do relógio. Ouço ruídos. Meu abraço pode vir no silêncio da noite, no caminhar macio, no vacilo dos passos que se aproximam. A expectativa.... Tudo engano, tudo fantasia de mãe carente. O silêncio se faz acintoso. Uma porta se fecha. A luz é apagada. O relógio me diz que o dia se foi. Com ele a esperança, o abraço, o beijo, o parabéns, o sorriso que esperei do meu filho desde que o dia amanheceu. Uma lágrima insiste em rolar. Outras vão se seguindo. Deixo que sequem, sem limpá-las. Espero que no próximo ano não tenha de escrever o mesmo.