A DESCONFIANÇA ESTÁ EM TODOS OS LUGARES

Devido a esta onda incontrolável de assaltos, roubos, sequestros etc, é mais do que justo e normal qualquer pessoa ficar atenta e desconfiar de quem quer que seja. Por isso, não fiquei tão chateado com aquele sacristão que me chamou a atenção dentro daquela igreja. Vamos ao fato insólito e verídico que aconteceu comigo, humilde ex-seminarista, que fui confundido com uma pessoa suspeita ao adentrar numa igreja quase todos os dias e sempre no mesmo horário.

Foi isto mesmo que aconteceu comigo quando trabalhava nos Correios nos anos 80. Como sou um bibliófilo inveterado, sempre carrego comigo um livro ou revista. E dependendo do lugar onde me encontro, procuro aproveitar o tempo livre, lendo algo assim. E naquele tempo, aproveitava a minha hora da janta para ler um bom livro no interior de uma igreja próxima à agência onde eu trabalhava, obviamente, após fazer as minhas costumeiras orações, diga-se de passagem. Como na primeira semana não me aconteceu nenhum imprevisto, continuei a minha rotina normalmente.

Certo dia, por pequeno descuido da minha parte, fui advertido pelo sacristão que não deveria colocar os pés no local onde onde se ajoelha. Até aí, tudo bem. Atendi o seu pedido, incontinenti. Nos dias seguintes, percebi que o mesmo funcionário ficava sempre passando por perto do local onde eu me encontrava e parecia que fazia questão de mostrar que ele estava de olho em mim. Resolvi deixar pra lá, mas aquela atitude já estava me tirando a atenção da minha leitura habitual. Até que certo dia, ele tomou uma atitude que me tirou do sério. E olha que eu fui sempre calmo, tranquilo, mas achei que a desconfiança exagerada daquele sacristão havia extrapolado. Aconteceu o seguinte: ele se aproximou de mim, não pediu nem licença por interromper a minha leitura e foi logo falando:

-"Não pode ficar lendo aqui não, moço!"

Logo após ouvir esta admoestação acintosa e absurda, imediatamente o interpelei:

-Por favor, pode me dizer se há algum padre aqui na igreja, neste momento?

-Tem. Está lá na sacristia.

-Posso ir falar com ele um minuto?

- "Espera um pouco que eu vou lá falar com ele primeiro".

Não demorou muito, de longe ele gesticulou para mim, autorizando a minha entrada. E lá fui eu, sem demonstrar nenhum aborrecimento. Apenas gostaria de ouvir uma justificativa razoável para aquela proibição naquele recinto sagrado.

Após a minha rápida apresentação, o sacerdote ali presente, muito educado só me pediu para ver que livro eu estava lendo. Sem maiores problemas, entreguei-o. Ele leu o título: "CONSTRUIR O HOMEM E O MUNDO" - do autor Michael Quoist. Em seguida, sem nada comentar sobre o conteúdo daquela leitura, devolveu-me o livro e justificou a atitude do seu sacristão:

-O nosso funcionário agiu desta maneira devido um assalto que aconteceu aqui na nossa igreja e então, como ele ainda está, aliás, estamos bastante traumatizados, pois tal fato aconteceu há pouco tempo, ele achou que chamando a sua atenção por isto ou aquilo, estivesse talvez diante de uma pessoa movida com segundas intenções. Você há de convir que vivemos numa época de muitas desconfianças.

-Tudo bem, entendo e peço desculpas por deixá-lo assim tão apreensivo com a minha presença diária e sempre no mesmo horário. Eu prometo evitar ou diminuir a minha presença por aqui.

Depois desta conversa franca, procurei evitar novos transtornos ou dar motivos para desconfiança quanto a minha rápida permanência naquele recinto sagrado, fora do horário de alguma cerimônia religiosa.

Joboscan

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 13/08/2013
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