ESTADIA EM ITABIRA...

Minhas letras levaram-me á Itabira, a terra do aço! Fui ter com Drummond, estive em sua casa, percorri os seus espaços, fiz parte de sua história!

A emoção estava estampada em minha face, transbordando de minha alma e de meu coração...
De Itabira vem o aço, que é o esqueleto de nossa sociedade, e vem um pouco de nossa alma, dos sentimentos do mundo que calamos fundo em nossos sentidos e que de vez e outra deixamos á mostra com nossa emoção!
Subi as escadas de madeira da casa do poeta, lentamente, com certa premeditação... Esperando que o som dos meus passos, ecoando pela construção, dissessem ao poeta sobre a minha aproximação.
Sentei-me em sua sala, sob um retrato do dono da casa a muito ausente, e folheei o meu livro Marcas no coração...
O que me diria o velho mestre, que fez poesia de pedras no caminho? Do jardim de pedra, erigido pelo irmão, e da porta sempre aberta de sua casa, quiçá de sua alma e de seu coração?
Fui ter em Itabira, para saber que dali partira ainda jovem o poeta, que em suas andanças foi bater no Rio de Janeiro, onde se fixou e passou um bom tempo de sua vida!
Ví, sua face estampada em caminhos de pedra ferro, em sua fazenda, em sua fundação... Senti que a ele é dada uma significação e importância...
Uma vida tão profícua tem mesmo que ser valorizada!
Pena que este valor às vezes vem depois de uma vida toda devotada a um trabalho, a uma vocação, a um sonho...
E neste pais, um Brasil que tem dentro de si vários Brasis que ainda não se recolhesse, a valorização de esforços empreendidos pela cultura me parece que são pouco difundidos á população, embora em âmbito privado sejam largamente festejados...
Assim, preocupa-me a sensação de que esforços individuais venham a ser levados em conta, quando podem ser comercializados, transformados em pontos turísticos, coisificados...
A alma humana, os seus sentimentos, os seus pensamentos, bens de valor inestimáveis, assim, transformam-se com o passar do tempo, em mercadoria posta à venda para quem possa pagar...
Já que quem assim procede já tem de antemão ciência da importância daquilo que se quer comprar...
Já a difusão de cultura para a população, esbarra em políticas de governos, em entraves sociais, em discrepâncias existentes em nossa sociedade.
Em Itabira, Minas Gerais, esbarrei em meu ser com a sensação que já era minha aqui em São Paulo; estamos todos voltados mais para as coisas do que para os seres...
Itabira é uma cidade que foi toda esburacada, que corre o perigo de ter uma parte de si alagada, por águas represadas por finos paredões de terra ferro, segundo me foi falado à boca pequena...
Assim, pela coisa ferro, aço, parece-me que o ser humano foi esquecido...
E também ali, onde é o berço de um grande poeta, um pensador arguto, que desvendou tão bem a alma humana, encontrei vestígios da miséria humana, pobres esmolando, usuários de drogas nos escurinhos de cantos afastados... Como aqui, em São Paulo, uma das cidades mais importantes do mundo!
Sensações a parte, comentários feitos a boca pequena, dados que carecem de esclarecimentos, ter em Itabira, que foi um sonho realizado, um presente que me fora dado pelas minhas letras, e pelo destino de meus passos, pela amizade irrestrita de pessoas varias, e pela amabilidade de itabiranos ilustres...
E no tocante a minha vaidade, ler a mim mesmo sob o olhar atento do grande mestre foi emocionante e ato de muita responsabilidade!
O que diria Carlos Drummond de Andrade sobre as minhas letras?
Já que tento, como ele, falar de pedras no caminho, com a minha tenra sensibilidade...
Já que tento falar de sentimentos do mundo, com um olhar de outro ângulo de tempo, num tempo de mundo que é tão diferente do tempo de mundo do grande poeta!
Seja como for, fui, e voltei com o pensamento fervilhando de sensações que gritam por se solidificar, não em pedras ferro, mas em letras, em poesias...
Só sinto, que a vida aqui na cidade grande seja tão corrida, tão efêmera; não poderei ter no quintal de minha casa um jardim estrela, feito de rosa e gerânios...
E que minha porta aqui fique sempre bem fechada!
Ainda bem que tenho alma e que tenho coração... Pois eles estão vivos, e são como uma casa, e como disse o grande poeta: “Pois se há vida na casa, a porta há de estar, como a vida, aberta”.
Meus queridos amigos de Itabira, meu coração é todo teu, podem entrar...
 
Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
13/08/2013