UMA VINGANÇA AINDA QUE TARDIA

UMA VINGANÇA AINDA QUE TARDIA

Por anos a fio venho suportando alguns inoportunos desconfortos praticados por usuários de telefone celular. Quando não é fofoca em altas e estridentes gargalhadas; é conversação sem pé nem cabeça. Houve casos de narrações de bravatas de transas, que dou um braço como não aconteceram, só rastro de onça.

É do conhecimento de quem se relaciona comigo que execro o celular, um aparelho para mim: chato e exibicionista. (não cabe aqui explicação o porquê)

Pois resolvi me vingar, ou melhor, entrar no jogo, dos meus colegas usuários do transporte coletivo. (tudo aqui citado no parágrafo primeiro aconteceu dentro dos ônibus de transporte coletivo urbano, em Goiânia)

Minha vingança consistiu de uma falsa ligação.

Explico.

Consegui um aparelho de celular, já velho, sem serventia, que não funcionava mais, tanto é que o referido era brinquedo do meu netinho. Pois bem, antes da falsa ligação, fui para frente do espelho do banheiro lá de casa; e ensaiei exaustivamente um diálogo com suas digressões, falsetes, gritos e gargalhadas que eu daria; ainda que fosse na realidade um monólogo...

Como sempre fui importunado dentro de ônibus lotado, resolvi retribuir nos mesmos moldes e modus operândis.

Subi no dito cujo e referido ônibus no mesmo lugar de sempre (não queria levar vantagem), e para o cúmulo da coincidência, pelo menos a grande maioria dos “importunadores” estavam naquela viagem. Fui rápido e enfático. Assim que consegui chegar ao meio do ônibus, o que não foi fácil devido à proporção de corpos por metro quadrado estar acima das estatísticas da OUOL (Organização dos Usuários de Ônibus Lotados kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk)

Saquei do bolso o aparelho de telefone celular estragado (ninguém ali nem imaginava), fingi digitar e...

- Alô... Alô... Porra! Caralho! Responde!

Falei numa altura para ser ouvido até pelo motorista lá na frente do ônibus.

Aquele zunzum natural silenciou, ou melhor, passou a uns poucos resmungos.

Agora praticamente gritei:

- Seu merda! Está se fazendo de surdo? O quê? Está me desafiando?

Quando eu te pegar vou enfiar este celular no seu c**!

Muitos dos presentes já olharam para mim incrédulos. Com certeza pensavam: “Este cara é doido!” Outros: “Caramba! Será que não dá para falar mais baixo!” Mas ninguém teve topete de se intrometer.

Continuei gritando:

- Seu filho da puta! Está pensando que por eu estar dentro de um coletivo sou da sua laia?

Uma senhora á minha frente fez gesto de que queria silêncio.

Gritei no celular:

- Espera um pouco! Tem uma baranga interrompendo nosso interlúdio...

E gargalhei gostoso.

Tirei o celular do ouvido, fiz que ia responder a senhora, mas voltei ao ataque, agora com toda potência na voz:

- Seu desgraçado! Vagabundo! Quando eu o encontrar corto o seu saco!

Joguei o celular no piso do ônibus, sapateei sobre ele até deixá-lo em cacos.

Ninguém disse um “A”.

Até hoje, lá se vão meses, de vez em quando encontro alguns dos que ouviram e viram meu desabafo; vejo que me reconhecem, mas preferem fingir que não...

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 13/08/2013
Código do texto: T4432217
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