DIA DOS PAIS
Prof. Antônio de Oliveira
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Antigamente, símbolo de despedida era uma estação de estrada de ferro.
Ali, à altura do piso dos vagões, uma plataforma de cimento cimentava abraços de embarque e desembarque. Dois lados de uma mesma viagem, canta Milton Nascimento: o trem que chega é o mesmo trem da partida. Na sucessão de adeuses, a hora do encontro é também despedida. Lá Lá Lá Lá Lá...
“Ah! O trem! Era de ferro e se foi!..” canta Cely Vilhena.
Hoje, talvez seja aeroporto esse símbolo. E símbolo possante, não mais sobre trilhos e, sim, pelos ares. Quando a família aguarda, com direito a faixa e foto, um jovem ou uma jovem regressando de um intercâmbio. Quando também o pai chora, rompendo com o estereótipo de que homem que é homem não chora. Na verdade, não se diz que pai que é pai não chora. Pai também chora. Quando? Ouça-se o depoimento de cada pai que já chorou. Principalmente quando tomou o filho ou a filha nos braços, pela primeira vez. Sem jeito e com medo de apertar um ser demasiadamente frágil.
Padre Antônio Vieira o vê e o diz com vigor, em premissas e conclusão:
“Os olhos têm dois ofícios: ver e chorar; e mais parece que os criou Deus para chorar que para ver, pois os cegos não veem e choram”. Para os olhos paternos que choram lágrimas não reprimidas, mas espontâneas e descontraídas, que se as enxuguem com o lenço da ternura.
Família ainda é uma abençoada teia de relações nucleares, miolo, polpa, ninho. Não um nó. Uma conquista, uma catedral gótica levantada com a argamassa do amor, colunas consolidadas na mistura consanguínea, DNAs e torres tocando o céu. Uma construção. Só que, constata Mia Couto, “quem constrói a casa não é quem a ergueu mas quem nela mora”. Ou pode morar e cheirar os cheiros de casa. “As panelas fervendo no fogo também servem de adorno. Enfeitam um lar...” escreveu, do seu Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus. Despejada não há de ser a casa construída pela arquitetura paterna. Então, feliz Dia dos Pais!