A TOPIC 55
Da segunda faixa o motorista acenou indicando que estava lotada. Morta de atrasada (esperava há muito tempo), ignorando o sinal que ele fez passei na frente do ônibus parado e fui até a topic. Devo ter feito uma expressão bem escrota, porque ele acabou abrindo a porta e conseguimos subir, outra pessoa e eu.
Fiquei no primeiro degrau e nele permaneci durante um longo percurso porque ninguém conseguia se mexer lá dentro. Uma viagem aproximada de 30 minutos dali até o ponto onde eu saltaria. Olhei no relógio, eram 8h04. Meu horário de trabalho inicia às 8h. “Que maravilha!”
A pessoa com ódio, esperando um tempão, e o cara insistindo que não dá pra subir? É bem capaz mesmo, mais menino!
- Cuidado com o braço, vou fechar a porta!
Em pensamento respondi: “fecha essa porra!”
A cobradora informou:
- Está lotada, vem outra atrás!
A mulher que tentou, mas não conseguiu entrar, gritou:
- A gente tem horário pra chegar ao trabalho!
- Mas, senhora, o que eu posso fazer se a topic está lotada?
- Pois então vocês deveriam nos dar uma declaração...
Motivo de risos, claro. A pobre criatura estava em desespero. Já imaginou o motorista atestando a dificuldade no trânsito e a má distribuição das rotas? Fiquei até pensando: quem será que cuida disso? Certamente alguém que nunca encarou uma viagem na abençoada 55. Durante os cinquenta minutos que fiquei no ponto de ônibus, contei 6 topics 57 para uma 55.
Bom, mas quem sou eu para julgar, deve existir a preocupação em fazer o melhor para nós, afinal uma das missões da responsável pelas linhas do Sistema, disposta no site, é: “oferecer um serviço cada vez mais humanizado”. Pelo menos lá (no site) a informação da empresa é animadora, ao dizer que a frequência daquele transporte é de 6 minutos. “Nunca na galáxia!”
E enquanto isso, a cidade está entupida de gente indo trabalhar, muitos carros, motos, ônibus, topic... a demanda é grande, a lotação é a mesma em qualquer horário. Tem dias que sinto vontade de chorar. É, se você não estiver muito bem, você chora.
E uma ansiedade quase me toma, mas fujo a tempo, ao recordar que não adianta, dependo dessa condução (três vezes por dia). É a única opção que tenho para chegar ao meu destino. E na volta, é nela que chego até a faculdade, e ao sair da faculdade, é nela que chego ao ponto onde apanho a condução que me leva até minha casa.
Sou escrava da 55. É osso!