Esse negócio de guarda-chuva
Esse negócio de guarda-chuva me revolta. Guarda-chuva, sombrinha ou seja lá o que for, me revolta. Detesto ver o gênio humano apoquentado com fabricações inúteis e detesto mais ainda quando as fabricações inúteis são ovacionadas e tidas como essenciais.
Guarda-chuva não é uma coisa essencial, muito pelo contrário, é um treco. Treco de primeira qualidade, cuja única função é dar trabalho e prejuízo, além de encher o saco.
E como todo bom treco, ainda promete deixar a sua vida mais fácil. Dizem que se usa guarda-chuva para não se molhar, mas essa definição é falha.
No máximo, usa-se guarda-chuva para não molhar a cabeça. Esse instrumento, convenhamos, só protege da cintura pra cima. Quando você está andando na chuva mesmo, não tem jeito como não molhar pés e pernas.
Então, cai por terra a afirmação de que você usando guarda-chuva não se molha. Vai se molhar sim, menos, mas vai.
Mas não para por aí. O guarda-chuva ainda ocupa uma de suas únicas duas mãos. Você só tem duas mãos, mas para não molhar a cabeça tem que se contentar com uma, para poder ficar com o guarda-chuva.
Ou sombrinha. Vou usar a palavra sombrinha um pouco pois já abusei de escrever guarda-chuva.
Parece não ser muito pesado o investimento de uma mão para segurar a sombrinha, mas é muito. Se, digamos assim, de repente, seu celular tocar e você tiver que procurar alguma coisa no seu bolso ao mesmo tempo, sua única escolha vai ser escorar a sombrinha de alguma forma, se contorcendo numa posição vexatória e acabando por molhar algum de seus flancos, apenas com a esperança de não derrubar nada.
Outra coisa a se apontar é o prejuízo econômico em se ter um guarda-chuva. Prejuízo por que você não vai ter só um guarda-chuva. Essas coisas são fabricadas para quebrar. Tem uma vida útil de algumas semanas, no máximo. Isso se você não se esquecer, como já fiz várias vezes, que está carregando algo inútil e perdê-lo em algum lugar.
Mas as pessoas dizem, "ah, e eu vou trabalhar molhado então?". Por que não? Por que temos que trabalhar secos? Se não há vergonha alguma em ser irradiado pelos abençoados raios solares enquanto se vai ao trabalho, justamente por que é natural, por que haveria em chegar molhado ao trabalho, quando a chuva é ainda mais natural, saudável e agradável?
Ah, por que a água é incômoda. Vai molhar tudo, vai molhar todo mundo, vai colar sua camisa no seu peito e estragar a escova inteligente pela qual a mulher pagou uns trezentos reais.
Mas é mais prático colocar uma toalha numa bolsa ou numa mochila do que um guarda-chuva na mão.
E não quero nem lembrar daquela lufada de vento que bate nesses trecos, entortando-os para cima e deixando você molhado, do mesmo jeito. Não quero lembrar para não ter raiva.