Passado nem tão perfeito

Você abre o olho, a claridade assusta, suas pálpebras se comprimem fortemente. Você toma coragem e abre os olhos. Pronto tudo esta nítido agora, seus olhos castanhos (Cor-de-mel ou verdes, sei lá, nunca chegamos a um acordo sobre isso) estão prontos para encarar o mundo.

Do teu lado o celular, você pega e checa o que você já esperava: duas mensagens minhas, você as ignora. Levanta, escova os dentes e arruma o cabelo. Prepara o café. O dia azul não te alegra, você odeia calor, prefere o frio, odeia sua cidade litorânea em dias quentes. Volta pro seu quarto e abre um livro, página 68, O Jogo do Anjo, do Zafon, o seu preferido. Leitura flui bem e David Martin ainda não se meteu em nenhuma enrascada. Outra mensagem minha. Você ignora.

14:30, você precisa almoçar. Salada? Não, melhor alguma carne, a preguiça vence, macarrão instantâneo, 3 minutos que passam tão rápido quanto os nossos 365 dias juntos. Louça lavada e a tarde vai caindo levemente como o seu passo cansado até o quintal. O vento do pôr-do-sol te agrada, esperança de dias frios. Te ligo. Um, dois, três, e no quarto toque uma voz rápida diz que meu destino é a caixa de mensagens. As seis casas e o terreno baldio que nos separam parecem uma distancia mínima, mas quando penso na gente, até a Holanda parece ser mais perto.

Você olha pra cima, e pensa, o vento desarruma seu cabelo, você o coloca de volta no lugar e pensa, seu irmão chega, você diz oi e pensa, você respira fundo e pensa. Um banho quente, enquanto a água escorre pelo branco da sua pele, você pensa, a toalha contorna seu corpo e você continua pensando, as luzes da rua se acendem e você ainda não desistiu de pensar.

Você pensa e o tempo passa. Horas, dias, meses. Desisto das mensagens, das ligações, de te ver. Quando deito, lembro o seu sorriso, quando acordo, esqueço o seu olhar. Os dias vão e você foi, andei pro norte e você pro sul. Deitei na areia e quando percebi você sentou do meu lado. Meses sem ouvir sua voz ou esbarrar com teu olhar. O tempo passou. Bem diante dos nossos olhos, a nossa vez se foi e a gente se olhou sem saber o que dizer. Palavras não iriam consertar o passado, nem mudar o presente, o silencio era o melhor remédio.