A cortina de jornal
Quase todos os dias ouvia minha mãe reclamar daquela prateleira no fundo do quintal onde meu pai guardava bugigangas que ele dizia que um dia podia precisar. "Aquilo é uma bagunça. Você Vaguim, (apelido que somente minha mãe chamava meu pai Joaquim), nunca vai usar aquelas coisas e só fica juntando poeira). De tanto ouvir aquelas reclamações um dia fui lá e fiz uma cortina de jornal para cobrir a "bagunça". Nada falei e fiquei esperando minha mãe ver e claro, com um sorriso no rosto, elogiar minha iniciativa. Mas, para minha surpresa, logo que ela viu disse: "Quem fez aquela coisa horrível lá no fundo do quintal? " Que balde de água gelada! Meu pai olhou, compreendeu a situação e disse: "Mas ora Ceição, o apelido que somente ele chamava minha mãe Conceição, ficou muito bonito!" Hoje sei que estava mesmo horrível, mas jamais esquecerei a presença de espírito de meu pai, buscando me elogiar por minha tentativa de acabar com as discussões por causa do assunto. Deixou-me de herança o desafio de levar a todos aqueles que tentam resolver problemas, o incentivo para fazer cada vez melhor. Obrigada meu pai.