Tical, Bela e Triste
Tical, cidade carmesim no meio da floresta.
Tical foi uma cidade dos Maias, que tinha suas belas pirâmides pintadas de vermelho. Como todas as outras cidades maias, Tical tinha suas construções impermeabilizadas pela cal, abundante na região. Até o solo, rico em calcário, material de alta porosidade, era impermeabilizado. Para que a água da chuva não fosse rapidamente absorvida pelo terreno. Chovia pouco na península de Yucatán, como de resto nas terras dos maias, o que fazia com que eles fossem engenhosos e criativos na captação e armazenamento desse bem precioso. Que não falta em países como o Brasil.
Para que se atenuasse a clareza ou brilho das pirâmides, já que a argamassa é de coloração clara ou branca, pintavam-nas de vermelho.
Com a impermeabilização do solo, os caminhos por onde a água deveria passar eram construídos com inclinações, para que o líquido fosse captado em reservatórios. Em determinada cidade havia três reservatórios em níveis diferentes. Dois superiores, contendo água limpa e que era utilizada pelos reis, nobres e gente da classe superior. E o mais inferior, contendo água já utilizada e que era destinada aos cidadãos comuns. A água dos reservatórios superiores, depois de utilizada, era conduzida para o de nível inferior. Não havia desperdício do precioso líquido.
Os Maias ficaram conhecidos pelos seus sofisticados conhecimentos de astronomia. Isso há cerca de dois mil anos! Face ao seu grande interesse pela movimentação dos corpos celestes, estabeleceram um calendário preciso de meses de 29 dias e um ano com 365 dias. Com a observação dos movimentos solares e lunares, puderam ainda calcular o ciclo em que Vênus encontrava-se alinhada à Terra. Conseguiam também determinar pela observação dos astros o período mais indicado para a colheita. Eles tinham o seu Deus das Grandes Colheitas.
A cidade de Chichén Itzá era um dos principais centros astronômicos dos Maias. Hoje, todos os anos milhares de pessoas para lá se dirigem num determinado dia com o propósito de visitar a pirâmide de Kukulcán, para ver a silhueta de uma serpente que aparece na lateral de sua escadaria em função da movimentação do sol. Esse dia, segundo os estudos e cálculos maias, é indicativo do início da época boa para a colheita.
Eles dominaram o conceito do “zero” no ano de 325, o que os europeus – Galileu Galilei entre eles – só puderam fazer cerca de 700 anos depois. Registraram o ciclo completo do sol em 365, 2420 dias, o que hoje se define em 365, 2422. Número que deve estar incorreto, pois há quem garanta que os Maias não erraram em seus cálculos.
Mas havia também os sacrifícios que os Maias prestavam a seus deuses através de rituais religiosos. Registra-se hoje no fundo de um lago em local por eles habitado o encontro de esqueletos com marca de escalpos e profundos ferimentos na face e em outras partes do corpo.
Embora não se trate bem de rituais religiosos, sabe-se hoje que os maias utilizavam-se de blocos de madeira que empurravam contra as cabeças de suas crianças, em tenra idade, para que elas ficassem mais achatadas. E que objetos eram balançados na frente de recém-nascidos para que eles ficassem estrábicos.
Que estranha essa civilização humana. Tão competente, graciosa, engenhosa e criativa por um lado. Tão triste, bruta e rudimentar por outro. Como costumamos ainda constatar todo santo dia. Com as brutais guerras em que são implacavelmente assassinados idosos, mulheres e crianças por potências que enviam seus cientistas a esses preciosos sítios arqueológicos de onde retiram e redescobrem ensinamentos que nos surpreendem. E ao mesmo tempo nos desapontam.
Maricá, 11/08/2013