CANTO AO RECANTO
Estou no Recanto há dois anos!
Para mim, a experiência valeu pelos meus 83 anos inteirinhos, anos estes só superados pelos do decano e emérito poeta, humorista e professor do bom viver, Ayres Koerig, que, mesmo carregando o peso dos seus 94 anos, alardeia vigor e saber.
Vejo nele um exemplo a seguir, como norma de criadora longevidade, que fica tão distante como o sol, das modernas fórmulas do "coma isso";" não faça isso"; "caminhe todo o dia 20 quilômetros" ; "não consuma alcool"; "faça sexo 4 vezes por semana, no mínimo", como se isso fosse possível em todas as idades, mais ainda depois de andar aqueles quilômetros todos; "durma, pelo menos 8 horas", mesmo tendo problemas de próstata, que o arrancam da cama a cada 2 horas; " fuja do stress", mesmo que você seja assaltada na porta da sua casa ou seja estuprada no ônibus 1341da linha de Nova Iguaçu; "alimente-se saudavelmente " mesmo que o quilo do humilde tomate chegue aos absurdos 10 reais !"
Estou no Recanto há dois anos!
Em termos de literatura, de arte, de inspiração e sabedoria, acrescentei um século à minha existência; lavei a alma na fonte da poesia, da beleza, viajei novos mundos, alarguei meu horizonte, vivi sentimentos jamais imaginados, singrei mares revoltos e plácidos remansos, galguei montanhas, sonhei azul, rastejei em subterrâneos, alcei ao céu. E ganhei um nova família!
Fui autor e ator, protagonista e figurante, anjo e demônio ou, apenas, atônito e deslumbrado leitor.
Claro que, neste vasto cenário, distorções seriam inevitáveis; competições ocorreriam; ciúmes e confrontações, mesmo veladas, aconteceriam; desilusões e desistências seriam comuns, mas, afinal, o sentimento maior da solidariedade, do amor ao próximo, da amizade incondicional, do privilegiado pendor para as muitas e ainda ocultas belezas do nosso mundo, teriam que prevalecer
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E, assim, continuamos nós, como celestes arautos, a proclamar a vida em toda a sua plenitude, a sofrer as mazelas modernas, a fantasiar novos mundos, a manter sempre acesa a esperança de dias melhores, da simples felicidade, da comunhão tão desejada, da paz que jamais deveria deixar de existir, do eterno culto ao amor.
Honestamente, devo ao Recanto a oportunidade de integração e o prazer de ouvir a voz dos seus inspirados poetas e cronistas, pois eles me deram uma ótica diferente das coisas que nos cercam e ampliaram o campo de visão da minha janela.
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(não deixe de ler o colega " Cronista")