LIÇÃO INFANTIL
Sempre gostei de criança. Quando conheci Teresa, esperava a menina que, ao nascer, tornou-se minha afilhada. Fiquei faceira, orgulhosa. Tinha carinho especial por ela. Sempre que podia, procurava oferecer-lhe um mimo, fazer-lhe um agrado, conversar com ela. Quase que diariamente ia visitá-la. Dessa forma, acompanhei-lhe o primeiro sorriso, a primeira papinha, o engatinhar, os passos vacilantes, a fala, as peraltices. Tudo o que fazia era divertido. Não somente os pais, mas também a madrinha, viviam as alegrias de tê-la. Muitas vezes, levava-a para dar uma voltinha, passear na praça ou simplesmente caminhar pela quadra.
Nestas oportunidades, não me cansava de esclarecer-lhe os porquês. Em algumas ocasiões, via-me em “papo de aranha” para explicar-lhe alguma de suas dúvidas.
Era carinhosa, brincalhona, divertida. Meu amor por ela aumentava dia a dia. Quando longe, ficava contando as horas que faltavam para vê-la. Era um amor gostoso, cheio de alegria.
Um dia, quando, mais uma vez, saímos para dar uma volta, passamos por uma casa onde havia um galinheiro. Ficou encantada com os bichos, principalmente com os pintinhos. Divertiu-se por algum tempo em conversar com eles, dar-lhes alimento, o que foi permitido pela dona.
Depois, seguimos por uma trilha, onde encontramos uma galinha. Isabel pôs-se a correr atrás, tentando pegar a ave, incentivando-me a ajudá-la. Disse-lhe que não. Ficou me olhando com descontentamento.
— Pega, Dinda, por favor! Quero ela. É minha. Eu achei.
Argumentei que não era possível, pois tinha dono. Insistiu, dizendo que ninguém estava vendo. Disse-lhe que embora não houvesse ninguém por perto, Deus via tudo. A peralta me olhou, desafiadora, com as duas mãos na cintura, e lascou:
— Eu sei, Dinda. Eu sei que Deus vê tudo. Mas Ele não conta pra ninguém. Não se preocupe!