DO OUTRO LADO DO RIO
Sábado à tarde. Chuvinha fina e fria. Os dois sentados em frente à televisão. O marido absorto nas imagens e atento aos horários de futebol.
A mulher se agitava na cadeira como se tivessem espinhos a perfurá-la. Sem mais paciência a esposa arrisca em tom decisivo e inquisidor:
_ Tu vais ou ficas?
- Onde?- Pergunta o marido sem dar muita importância àquela pergunta atrevida e mal intencionada!
- Atravessar o rio ué! – dizem que o peso está baixo e favorece as compras.
-Mas hoje? Tá chovendo... Tá frio... (só faltou dizer que tinha futebol!).
-Sim. Hoje. Agora. Se não quiseres me acompanhar, convido uma amiga.
- Não tenho dinheiro! – Diz em tom reprovador-
- Não precisa , apenas me acompanhe. Deixaremos o carro do lado de cá. Atravessamos a pé com a barca. Ficamos ali no porto, há lojas ali também, e voltamos na última barca!
Na cabeça dela já tinha tudo programado: iria comprar roupas para ela e brinquedos para o netinho.
Foram enfim, a mulher convenceu o pobre marido. Embarcaram rumo à Argentina, até fotos na barca ela tirou. Ele sisudo e cabisbaixo, ela eufórica com a novidade, feliz por ter saído do sofá em pleno sábado à tarde.
Chegaram. Feito o registro na Jendarmeria, partiram rumo à aventura:
_ Pra que lado vamos? – Pergunta o marido.
Ela olha pra direita, não vê nada. Olha para a esquerda... Estranho... Somente um bar e uma adega...
- Sei lá! – responde. –Vamos pela esquerda, tem mais movimento! Haverá lojas e mercados por aqui.
Caminham os dois lado a lado, porém a quilômetros de distanciamento. Estaciona ao lado deles uma caminhonete com dois conhecidos:
- Aonde vão?
- Na verdade não sabemos... é a primeira vez...
- Entrem... nós vamos à Oberá. Deixamos vocês na próxima cidade, uns 15 km daqui, voltam depois de táxi, lá tem bom comércio.
- É???!!! Vamos então.
O casal deixa os dois, marido e esposa em Santa Rita, e partem.
_ E agora? Que fazemos?- Pergunta o marido, nervoso.
- Vamos às compras, responde entusiasmada a esposa.
- O marido olha em volta e dispara: - Os Argentinos têm o costume da sesta, esses filhos da puta estão dormindo e nós aqui na chuva! Só tu mesmo pra inventar isso!!!!
- Calma, olha lá... Um mercadinho aberto - Diz a esposa.
Entram e ela começa a comprar: Uma sacola, duas sacolas, três sacolas... Quatro sacolas...
-Chega! – Dispara o marido.
- Chega! Quem vai carregar tudo isso?
-Então tá, responde ela. - Mas vou voltar!
-Vamos pegar um táxi.
-Sim, vamos. Onde tem um táxi?
Olham em volta. Nada. Perguntam. Nada. Ninguém sabe, ninguém viu.
Recolhem-se em uma parada e ficam ali, quietos. O marido parece uma estátua, sério, parado, furioso!
A mulher tenta contornar e diz: _ logo, logo passa um... e nós pegamos a barca.
Logo...? Passam-se 30 minutos...
Na parada de ônibus, encontra-se uma moça e um senhor grisalho, argentinos , até 20 pesos a esposa deu à moça que precisava também de um táxi, para colocar saldo no celular e chamar por um.
Depois de uns 40 minutos, eis que surge , magicamente um táxi. Para. Embarcam os quatro. O marido, a esposa, a moça e o senhor grisalho, para aproveitarem bem o táxi. Já no porto pagam e descem rumo aos trâmites legais para deixar o país vizinho. ( os outros passageiros dispararam antes de pagar o táxi, sobra para o marido acertar o valor).
Já na barca, caminham com dificuldades com o peso das sacolas de plástico do supermercado.
Os carros luxuosos passam por eles, conhecidos cumprimentam-lhes , e eles desculpam-se:
- Fomos logo ali, não vale à pena pagar carta verde e mais a passagem do carro pra ir logo ali!
(LOGO ALI, 15 km!!!!!!!!!!!!)
O marido, confessa baixinho como se murmurasse: -Sinto-me um pobre, a pé e cheio de sacolas pesadas!
A mulher, em tom conciliador: - Temos de ter senso aventureiro, sair da rotina, (tentando convencer-se a si própria).
Para completar a cena: Barreira policial. O exército numa operação de barreira na fronteira Brasil-Argentina. Pediram que saíssem do carro, com olhares desconfiados revistaram tudo, abriram as esparramadas sacolas no guarda-malas. Ela se sentia a própria Velha Contrabandista de Estanislau Ponte Preta.
Chegam a casa. A esposa feliz com seus vinhos, maioneses, pêssegos, azeitonas, licores, e mais um desejo realizado aos trancos e barrancos!
O marido resmunga, cansado: - Nunca mais tu me pegas pra um programa desses!
E ela, com muita energia ainda para gastar, detona: - sobraram 80 pesos. Sexta- feira estou voltando!
A mulher se agitava na cadeira como se tivessem espinhos a perfurá-la. Sem mais paciência a esposa arrisca em tom decisivo e inquisidor:
_ Tu vais ou ficas?
- Onde?- Pergunta o marido sem dar muita importância àquela pergunta atrevida e mal intencionada!
- Atravessar o rio ué! – dizem que o peso está baixo e favorece as compras.
-Mas hoje? Tá chovendo... Tá frio... (só faltou dizer que tinha futebol!).
-Sim. Hoje. Agora. Se não quiseres me acompanhar, convido uma amiga.
- Não tenho dinheiro! – Diz em tom reprovador-
- Não precisa , apenas me acompanhe. Deixaremos o carro do lado de cá. Atravessamos a pé com a barca. Ficamos ali no porto, há lojas ali também, e voltamos na última barca!
Na cabeça dela já tinha tudo programado: iria comprar roupas para ela e brinquedos para o netinho.
Foram enfim, a mulher convenceu o pobre marido. Embarcaram rumo à Argentina, até fotos na barca ela tirou. Ele sisudo e cabisbaixo, ela eufórica com a novidade, feliz por ter saído do sofá em pleno sábado à tarde.
Chegaram. Feito o registro na Jendarmeria, partiram rumo à aventura:
_ Pra que lado vamos? – Pergunta o marido.
Ela olha pra direita, não vê nada. Olha para a esquerda... Estranho... Somente um bar e uma adega...
- Sei lá! – responde. –Vamos pela esquerda, tem mais movimento! Haverá lojas e mercados por aqui.
Caminham os dois lado a lado, porém a quilômetros de distanciamento. Estaciona ao lado deles uma caminhonete com dois conhecidos:
- Aonde vão?
- Na verdade não sabemos... é a primeira vez...
- Entrem... nós vamos à Oberá. Deixamos vocês na próxima cidade, uns 15 km daqui, voltam depois de táxi, lá tem bom comércio.
- É???!!! Vamos então.
O casal deixa os dois, marido e esposa em Santa Rita, e partem.
_ E agora? Que fazemos?- Pergunta o marido, nervoso.
- Vamos às compras, responde entusiasmada a esposa.
- O marido olha em volta e dispara: - Os Argentinos têm o costume da sesta, esses filhos da puta estão dormindo e nós aqui na chuva! Só tu mesmo pra inventar isso!!!!
- Calma, olha lá... Um mercadinho aberto - Diz a esposa.
Entram e ela começa a comprar: Uma sacola, duas sacolas, três sacolas... Quatro sacolas...
-Chega! – Dispara o marido.
- Chega! Quem vai carregar tudo isso?
-Então tá, responde ela. - Mas vou voltar!
-Vamos pegar um táxi.
-Sim, vamos. Onde tem um táxi?
Olham em volta. Nada. Perguntam. Nada. Ninguém sabe, ninguém viu.
Recolhem-se em uma parada e ficam ali, quietos. O marido parece uma estátua, sério, parado, furioso!
A mulher tenta contornar e diz: _ logo, logo passa um... e nós pegamos a barca.
Logo...? Passam-se 30 minutos...
Na parada de ônibus, encontra-se uma moça e um senhor grisalho, argentinos , até 20 pesos a esposa deu à moça que precisava também de um táxi, para colocar saldo no celular e chamar por um.
Depois de uns 40 minutos, eis que surge , magicamente um táxi. Para. Embarcam os quatro. O marido, a esposa, a moça e o senhor grisalho, para aproveitarem bem o táxi. Já no porto pagam e descem rumo aos trâmites legais para deixar o país vizinho. ( os outros passageiros dispararam antes de pagar o táxi, sobra para o marido acertar o valor).
Já na barca, caminham com dificuldades com o peso das sacolas de plástico do supermercado.
Os carros luxuosos passam por eles, conhecidos cumprimentam-lhes , e eles desculpam-se:
- Fomos logo ali, não vale à pena pagar carta verde e mais a passagem do carro pra ir logo ali!
(LOGO ALI, 15 km!!!!!!!!!!!!)
O marido, confessa baixinho como se murmurasse: -Sinto-me um pobre, a pé e cheio de sacolas pesadas!
A mulher, em tom conciliador: - Temos de ter senso aventureiro, sair da rotina, (tentando convencer-se a si própria).
Para completar a cena: Barreira policial. O exército numa operação de barreira na fronteira Brasil-Argentina. Pediram que saíssem do carro, com olhares desconfiados revistaram tudo, abriram as esparramadas sacolas no guarda-malas. Ela se sentia a própria Velha Contrabandista de Estanislau Ponte Preta.
Chegam a casa. A esposa feliz com seus vinhos, maioneses, pêssegos, azeitonas, licores, e mais um desejo realizado aos trancos e barrancos!
O marido resmunga, cansado: - Nunca mais tu me pegas pra um programa desses!
E ela, com muita energia ainda para gastar, detona: - sobraram 80 pesos. Sexta- feira estou voltando!