Era só o começo

Seja por interesses financeiros, ou por quaisquer outros motivos, poucas pessoas ligadas à mídia se dispõem a analisar a quantas anda o panorama musical brasileiro e contribuir para a melhoria do que se ouve. Há, por um lado, uma preferência pela enxurrada de produções “B” com uma adesão descomunal do público, sobretudo, jovens bem como, cifras certamente proporcionais levadas em consideração pelos artistas popularescos. Por outro lado há um contingente significativo que está órfão, não necessariamente por não terem capacidade de se renovar, mas por não quererem “emburrecer”, afinal, não basta ser novo para ser bom. A preferência nacional já experimentou muitos estilos, desde os bolerões centro-americanos, passando por revoluções culturais, principalmente com o samba, bossa-nova, tropicalismo, rock, até o que se convencionou chamar de MPB, que é uma espécie de resultante da sopa primordial destes e de outros estilos. Foi provavelmente ali o ponto mais alto do que se criou por aqui, logo, por mais que se tenha boa vontade, quase nunca dá para reconhecer no atual momento musical brasileiro algo com a qualidade do que se criou nas décadas de 70 a 90. Poder-se –ia dizer que é porque as liberdades das gerações mais novas têm uma fome que requer intensidades antes amordaçadas por um conservadorismo hoje mais restrito a outras áreas; que o comportamento mais livre requer correspondente intensidade com um tipo de música que se presta, quase que exclusivamente, às baladas, símbolo de afirmação da independência sobretudo, sexual ou que o linguajar chulo tem no seu mal gosto o contraponto na dose certa para se contestar formalismos estéticos antecessores. Certa vez o Nelson Mota citou a Daniela Mercury como “uma Iansã vingadora que libertava nossos ouvidos da breguice sertaneja dos anos Sarney”. Mal sabia ele que uma onda de cretinices avassaladoras traria um funk inominável, um brega infame ou um ridículo sertanejo universitário seguindo o rastro de ventos musicais já tão poluídos. Era só o começo.