A verdade de Marcelo

Espero a bendita hora em que algo concreto, técnico-científico, cem por cento comprovado, venha a revelar a verdade acerca desse caso do pré-adolescente, Marcelo, sobre quem são apontadas as suspeitas de ser o autor da tragédia em cujo cenário apareceram assassinados os pais, a avó e a tia-avó e, ainda, teria Marcelo cometido o suicídio.

Especialistas em diversas áreas se encontram estupefatos diante do caso. O cidadão comum não acredita que Marcelo tenha realmente cometido esses atos de que tem sido acusado, pois o ocorrido deixa até a máfia desmoralizada. A sociedade está diante de um crime quase perfeito, milimetricamente planejado, praticado com um nível de exatidão desafiadora das mais requintadas inteligências.

A Internet é acusada, todos são suspeitos, vez que é preferível crer que um rapazinho bonito, criado com carinho, aluno disciplinado de escola da rede particular, portador de boletins que orgulhavam a escola e os pais, tenha sido capaz para tanto. Parte dessa incredulidade teria sido descartada fosse ele um menino pobre, favelado e aluno indisciplinado de uma destruída escola da rede pública.

Talvez o meu leitor até já comece a supor que me encaminho para uma comparação desastrosa. Não se trata disto. Reflito bastante sobre o caso e percebo que há bem mais do que possa imaginar a nossa vã especulação. Esse fato ocorrido em São Paulo desestrutura o psicológico coletivo, destrói conceitos, põe por terra muitas ciências. Estão de mãos atadas os da área policial, os da educação, os da psicologia e etc. Os estudiosos se sentem como se nada tivessem estudado, os jornalistas se sentem cegos, enfim, todos os que se manifestam dizem da surpresa e do inusitado desse caso policial. E dizem isto, tanto os que até aceitam que realmente o Marcelo é o único autor dos crimes, como também a maioria do povo brasileiro, que não absorve e não quer mesmo admitir o que tem sido apresentado pela mídia.

Não se trata de dizer quem realmente cometeu os crimes, isto pertence à atividade investigativa. O que importa para o povo é outra coisa bem distinta. Suponhamos que as perícias venham a comprovar que Marcelo matou e, depois, cometeu o suicídio. E agora? Isto seria como se esse pré-adolescente tivesse cometido um crime de porte universal. Ele teria transformado todos os jovens em criminosos, assassinos potenciais de todas as famílias. Fugindo pela porta do suicídio, teria deixado sob suspeita todos os da sua geração, teria deixado pais, avós e tios, a partir de agora, com uma pulga atrás da orelha quanto aos seus filhos, netos e sobrinhos netos.

O inconsciente coletivo dessas pessoas passaria, dessa forma, a olhar com desconfiança os seus parentes jovens. Será que meu filho está tramando a minha morte? Será que meu neto seria capaz de tal horror? Será que meu sobrinho me mataria quando eu estivesse dormindo? Por outro lado, professores não teriam mais como prever o comportamento dos alunos e até temeriam voltar-lhes as costas imaginando que seriam alvejados por algum Marcelo.

Particularmente, continuo na ala da maioria e, acreditando na inteligência e na lógica, escolho dar um crédito ao menino morto e esperar que a verdade apareça de alguma maneira. Se isto não acontecer, ou pior, se for, por A + B, comprovado ser Marcelo o autor de tal barbaridade, agora aí, é hora de usar luto fechado, pois não sabemos mais o que é um ser humano e nem sabemos o que vem a ser inteligência e nem lógica.