LEMBRANÇAS PATERNAS
nair lúcia de britto
Abri, hoje, um pequeno caderno que mamãe guardou
bem guardado e que, agora, sou eu quem guarda.
É um caderno de Citações literárias transcritas por meu pai, dos seus autores prediletos.
São anotações muito antigas, que ele escreveu quando bem jovem e ainda solteiro;
bem antes de conhecer minha mãe.
Uma dessas citações que eu aprecio é de Rui Barbosa, escritor e pensador baiano. Transcrevo-a para os meus leitores porque os valores preciosos
dessa citação são valores eternos.
Pai, tudo que eu possa te dizer hoje é pouco para transmitir o que o meu coração sente.
Por ora, quero só te dizer obrigada
por todos os valores que você me transmitiu.
Vai aqui, em sua homenagem, a crônica
que você anotou com sua letra bonita,
caprichosa e amorosa; com uma caneta-tinteiro,
carregada de tinta nanquim.
A COUVE E O CARVALHO
Enquanto Deus nos dê um resto de alento,
não há que desesperar da sorte do bem.
A injustiça pode irritar-se; porque é precária.
A verdade não se impacienta; porque é eterna.
Quando praticamos uma ação boa,
não sabemos se é para hoje, ou para quando.
O caso é que seus frutos podem ser tardios,
mas são certos.
Uns plantam a semente da couve
para o prato de amanhã;
outros plantam a semente do carvalho para
o abrigo ao futuro.
Aqueles cavam para si mesmos.
Estes lavram para seu país, para a felicidade
dos seus descendentes, para o benefício
do gênero humano.
(Ruy 311 e 312)