TRAJETORIA
Por Carlos Sena.
Sempre tive na vida muitos amores. Sempre tive nela muitos dissabores. Sempre perdi coisas, pessoas, afetos, porque na vida perder e ganhar tem intima relação. Eu sempre fiz, pra sobreviver na vida com dignidade, coisas que até Deus duvida. Porque na vida eu já fui ajudante de padre, já fui estagiário do projeto Rondon para ajudar pagar meus estudos. Eu já fiz show de calouros na minha cidade para poder partir pro mundo, lá para as terras do Recife onde eu sempre sabia que era lá o meu lugar. Lá onde o sol pra mim brilhava e me esperava com se fossemos velhos conhecidos. Debaixo do sol do meu Recife, suas ruas velhas e despudoradas me acolheram e foi lá que eu também fiz tanta coisa que Deus nem mais duvidava delas. No Recife eu furei volante de loteria esportiva na Rua Manoel Borba para ganhar o complemento da minha faculdade; cantei na TV Jornal, fiz lá programas experimentais de televisão. Fui como disse, “sacristão” – pois era com esse dinheiro que eu pagava a outra parte dos meus estudos. Recife sempre ali, me mostrando o sol, mas muitas vezes só a chuva chovia na minha horta tão cheia de esperanças. No rol do que fiz, não fiz pouca coisa: ser garoto de programa – pois naquela época com a beleza da idade e com meus olhos gatinhados, não faltaram propostas. Isso não. Eu sempre me dizia pra mim mesmo. Nada desonesto também não, pois essa era a lei da minha família e regra muito difundida na minha terra Bom Conselho. Eu era pobrinho, mas era limpinho como diz o bordão da TV. No segmento disso fiz coisas e fui outras. Do que fiz, fiz apenas. Do que fui, tanto não fui que ainda sou: amante da noite. Amante da musica. Amante do bom papo numa mesa de bar. Amante de um bom homem ou de uma boa mulher. Porque eu sempre soube que o ser humano não tem sexo e o seu sexo é o dos SERES. Escrevi muito e continuo. Quatro livros de poesias e outro com temas técnicos já na segunda edição. Compus frevos de bloco e ciranda por puro diletantismo. Até um CD já gravei. Já vi textos meus no Diário de Pernambuco, na Cultural Editora compondo antologia, mas adoro ver meus textos na Gazeta de minha terra. Fui professor em várias faculdades, inclusive na poderosa Federal. Mas, na vida foi com quem mais aprendi. Aprendi, por exemplo, que respeito é bom e nem todos gostam. Aprendi que quando duas pessoas se amam as duas tem que aceitar, mas quando é pra separar apenas uma. Aprendi que o tempo cura as dores de amores mais intensas. Que há sempre um dia atrás do outro e com uma noite no meio? Ah, como aprendi. Acima de tudo aprendi que a vida é uma permanente Roda Gigante: enquanto a gente tá em cima, há sempre os que estão embaixo e vice-versa. Aprendi que nossa terra natal nuca será ano novo. Será sempre terra “natal”.
Eu, como disse, sempre tive na vida muitos amores. Mas, dos amores que jamais desistirei o de ter sido PROFESSOR é o que mais me rejubila. Já dei palestra até na UNB, mas nada me invade a alma quanto o fato de ser professor do cotidiano. Ou dentro da sala de aula que curti por décadas. Do que fui o tempo se encarrega de recompor. Do que faço, a vida se encarrega de me dar à paga necessária para sobreviver. Servidor público federal – eis que também sou, sem dever a ninguém, nem recorrer ao “pistolão”... Porque na vida aprendi e ensinei e nalguns momentos me dei aula a mim mesmo – por dentro no meu silencio de clausura sempre que meu “mundo caiu”... Por isso hoje imerso no mundo dos amores que tive, tenho outros tantos. O maior dos meus amores é a minha família. O meu amor? Esse sim e dele não digo. Ele é como se dizem nas rodas falsas moralistas “clandestinas” – porque tudo se gasta quando se revela. Por isso, os clandestinos amores são mais saborosos, são mais amores. Mas amo também os momentos. Amo, sobremaneira meus AMIGOS! Neles, faço eternidade em minutos. E de minuto em minuto faço da vida que perdi no passado. Passado que deixei um pouco nas curvas do Arco do Triunfo, mesmo no hall da torre Eiffel ou em Pizza, no trajeto romanesco do Coliseu. Lá Colhi Seu – um amante imaginário para fazer parte da minha aventura lúdica de soltar a franga. Tomei água mineral Liviana na Espanha, inclusive comi uma tal de “paelha” que tanta gente fala bem mas que não troco por nossa feijoada. Deixei nesse trajeto modernoso parte do meu chulé no mar Adriático, enquanto que em Portugal os pastéis de Belém me levavam aos sonhos. Mas, nada dessa incursão europeia me superou nem me afastou do meu feijão, do meu cuscuz com leite e da minha farofinha de ovo, iguaizinhas aos meus tempos de dias difíceis no meu interior pernambucano.
Como disse, viver é perder e ganhar pela lógica própria do existir. Fiz de tudo e fui de tudo mesmo sabendo que nem tudo deu certo. Mas de tudo que deu certo, compraz-me dizer que o Magistério é meu xodó. Que a música é meu dominó existencial. Que a escrita é minha radiografia, meu divã, minha maça e minha maçã. Quando escrevo o mundo sai de mim para se reencontrar com meus demônios e eles sempre me são do bem. Quando a noite cai, eu me levanto sempre. E quando o dia aparece eu sumo com a noite para me esconder no outro lado do mundo. O mundo dos que não se partem, nem se quebram, nem se vergam diante das dificuldades. Ah, já ia me esquecendo: foi inesquecível uma apresentação que fiz num circo mambembe lá na minha terra, bem como um carnaval que fui cantar no distrito de Rainha Izabel. Quase morri me esgoelando de cantar, mas valeu pelo avesso da vida que nem sempre está pelo lado direito.
Por Carlos Sena.
Sempre tive na vida muitos amores. Sempre tive nela muitos dissabores. Sempre perdi coisas, pessoas, afetos, porque na vida perder e ganhar tem intima relação. Eu sempre fiz, pra sobreviver na vida com dignidade, coisas que até Deus duvida. Porque na vida eu já fui ajudante de padre, já fui estagiário do projeto Rondon para ajudar pagar meus estudos. Eu já fiz show de calouros na minha cidade para poder partir pro mundo, lá para as terras do Recife onde eu sempre sabia que era lá o meu lugar. Lá onde o sol pra mim brilhava e me esperava com se fossemos velhos conhecidos. Debaixo do sol do meu Recife, suas ruas velhas e despudoradas me acolheram e foi lá que eu também fiz tanta coisa que Deus nem mais duvidava delas. No Recife eu furei volante de loteria esportiva na Rua Manoel Borba para ganhar o complemento da minha faculdade; cantei na TV Jornal, fiz lá programas experimentais de televisão. Fui como disse, “sacristão” – pois era com esse dinheiro que eu pagava a outra parte dos meus estudos. Recife sempre ali, me mostrando o sol, mas muitas vezes só a chuva chovia na minha horta tão cheia de esperanças. No rol do que fiz, não fiz pouca coisa: ser garoto de programa – pois naquela época com a beleza da idade e com meus olhos gatinhados, não faltaram propostas. Isso não. Eu sempre me dizia pra mim mesmo. Nada desonesto também não, pois essa era a lei da minha família e regra muito difundida na minha terra Bom Conselho. Eu era pobrinho, mas era limpinho como diz o bordão da TV. No segmento disso fiz coisas e fui outras. Do que fiz, fiz apenas. Do que fui, tanto não fui que ainda sou: amante da noite. Amante da musica. Amante do bom papo numa mesa de bar. Amante de um bom homem ou de uma boa mulher. Porque eu sempre soube que o ser humano não tem sexo e o seu sexo é o dos SERES. Escrevi muito e continuo. Quatro livros de poesias e outro com temas técnicos já na segunda edição. Compus frevos de bloco e ciranda por puro diletantismo. Até um CD já gravei. Já vi textos meus no Diário de Pernambuco, na Cultural Editora compondo antologia, mas adoro ver meus textos na Gazeta de minha terra. Fui professor em várias faculdades, inclusive na poderosa Federal. Mas, na vida foi com quem mais aprendi. Aprendi, por exemplo, que respeito é bom e nem todos gostam. Aprendi que quando duas pessoas se amam as duas tem que aceitar, mas quando é pra separar apenas uma. Aprendi que o tempo cura as dores de amores mais intensas. Que há sempre um dia atrás do outro e com uma noite no meio? Ah, como aprendi. Acima de tudo aprendi que a vida é uma permanente Roda Gigante: enquanto a gente tá em cima, há sempre os que estão embaixo e vice-versa. Aprendi que nossa terra natal nuca será ano novo. Será sempre terra “natal”.
Eu, como disse, sempre tive na vida muitos amores. Mas, dos amores que jamais desistirei o de ter sido PROFESSOR é o que mais me rejubila. Já dei palestra até na UNB, mas nada me invade a alma quanto o fato de ser professor do cotidiano. Ou dentro da sala de aula que curti por décadas. Do que fui o tempo se encarrega de recompor. Do que faço, a vida se encarrega de me dar à paga necessária para sobreviver. Servidor público federal – eis que também sou, sem dever a ninguém, nem recorrer ao “pistolão”... Porque na vida aprendi e ensinei e nalguns momentos me dei aula a mim mesmo – por dentro no meu silencio de clausura sempre que meu “mundo caiu”... Por isso hoje imerso no mundo dos amores que tive, tenho outros tantos. O maior dos meus amores é a minha família. O meu amor? Esse sim e dele não digo. Ele é como se dizem nas rodas falsas moralistas “clandestinas” – porque tudo se gasta quando se revela. Por isso, os clandestinos amores são mais saborosos, são mais amores. Mas amo também os momentos. Amo, sobremaneira meus AMIGOS! Neles, faço eternidade em minutos. E de minuto em minuto faço da vida que perdi no passado. Passado que deixei um pouco nas curvas do Arco do Triunfo, mesmo no hall da torre Eiffel ou em Pizza, no trajeto romanesco do Coliseu. Lá Colhi Seu – um amante imaginário para fazer parte da minha aventura lúdica de soltar a franga. Tomei água mineral Liviana na Espanha, inclusive comi uma tal de “paelha” que tanta gente fala bem mas que não troco por nossa feijoada. Deixei nesse trajeto modernoso parte do meu chulé no mar Adriático, enquanto que em Portugal os pastéis de Belém me levavam aos sonhos. Mas, nada dessa incursão europeia me superou nem me afastou do meu feijão, do meu cuscuz com leite e da minha farofinha de ovo, iguaizinhas aos meus tempos de dias difíceis no meu interior pernambucano.
Como disse, viver é perder e ganhar pela lógica própria do existir. Fiz de tudo e fui de tudo mesmo sabendo que nem tudo deu certo. Mas de tudo que deu certo, compraz-me dizer que o Magistério é meu xodó. Que a música é meu dominó existencial. Que a escrita é minha radiografia, meu divã, minha maça e minha maçã. Quando escrevo o mundo sai de mim para se reencontrar com meus demônios e eles sempre me são do bem. Quando a noite cai, eu me levanto sempre. E quando o dia aparece eu sumo com a noite para me esconder no outro lado do mundo. O mundo dos que não se partem, nem se quebram, nem se vergam diante das dificuldades. Ah, já ia me esquecendo: foi inesquecível uma apresentação que fiz num circo mambembe lá na minha terra, bem como um carnaval que fui cantar no distrito de Rainha Izabel. Quase morri me esgoelando de cantar, mas valeu pelo avesso da vida que nem sempre está pelo lado direito.