Nascimento do escritor Apparicio Silva Rillo em 8.8.1931 - crônica de Ialmar Pio
PREITO DE GRATIDÃO AO POETA DA QUERÊNCIA
IALMAR PIO SCHNEIDER
Justa homenagem foi prestada ao saudoso poeta Apparício Silva Rillo, à noite de 8 de agosto, em que o mesmo estaria completando 74 anos, no Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa do Estado. Assisti ao espetáculo emocionante que teve o brilhantismo do grupo musical Os Angüeras, além dos cantores/compositores/músicos Mário Barbará, Luiz Carlos Borges, Renato Borghetti, Lúcio Yanel, Gilberto Monteiro, Vinicius Brum e João de Almeida Neto. O público lotava totalmente o local, presentes a Vva. Suzy de Araújo Rillo e demais familiares. Logo à entrada recebi uma Antologia Poética, do autor rememorado, organizada por Maria Thereza Veloso, Marisa Lima Trindade e Zilá Terezinha Teixeira Delavy, de onde extraí este poema maravilhoso: “VENTANIA – Me chamam Ventania/ porque estou sem estar/ e sem asas ou plumas/ me vêem a voar.// Aparto os cavalos que encilho/ da negra tropilha/ de meus temporais,/ tendo por marcos de posse/ o azul do horizonte/ e os pontos cardeais.// Na cancha-reta do fio de uma adaga/ balanço no freio/ meus fletes de lei,/ e a não ser ao amor das mulheres/ a nada me rendo/ - palavra de rei.// Ouço a voz dos que vivem plantados/ em falsas raízes, num palmo de chão./ Daqueles que à sombra dos ranchos/ cortaram-se as asas/ a troco de pão.// A eles/ aceno meu pala/ - bandeira dos livres que sei desfraldar./ E afundo meus rastros no mundo/ - eu sou Ventania/ nasci pra voar.” Pgs. 68/ 69.
Com certeza, seu espírito estava voando naquele ambiente que ele tanto amou: de música e poesia !
Lembro-me que lá pelos idos de 1960, após ler seu livro Cantigas do Tempo Velho, que tanto me emocionou, compus-lhe um soneto, não obstante as nuvens da juventude dos meus 18 anos, em Passo Fundo, como segue: SONETO – Apparício Silva Rillo, qüera/ que cantou “Cantigas do Tempo Velho”,/ Realmente xucro e natural espelho/ deste Rio Grande em remota era.// Olhas o rancho e em ti vês a tapera/ açoitada pelo sangrento relho/ do destino. Eu estou também parelho/ igual tu nesta minha sorte austera.// E vou seguindo aflito pela estrada/ gaudério, sem ninguém no meu caminho,/ curtido pela dor e desengano.// como uma espuma pelas águas levada,/ picado pelo agudo e duro espinho/ do mais rude destino, o mais insano.
Os versos acima foram inspirados, principalmente no poema Tapera, do poeta, e que finda assim: “...Olhei pro rancho... e pra mim:/ - as bombachas crivadas de remendos/ à feição de uma colcha de retalhos./ O velho poncho com rasgões e talhos,/ as botas quase sem sola./ O matungo estropiado, magro e velho,/ já nem podendo com a cola.// A mágoa que então me deu !/ - O rancho fora o mais rijo,/ e a tapera... era eu !”
Mais tarde lendo outros versos do saudoso escritor, em minha poesia Verso Gaúcho, eu lhe comporia a seguinte estrofe: Apparicio Silva Rillo/ grande cantor da querência,/ compondo com muita ciência/ a poesia da tradição,/ quando no tosco “Galpão”/ coberto de santa-fé/ se transforma no pajé/ que reúne a peonada,/ e a própria madrugada/ o encontra ainda de pé.
E encerrando a poesia citada, dizia: Ao fechar esta porteira/ dou de rédeas ao Gateado/ e recordando o passado/ também lembro do presente;/ ao futuro, indiferente,/ eu me largo campo afora./ Se a sorte não for caipora,/ na encruzilhada da vida,/ quero ter por despedida,/ um verso xucro que chora.
Desnecessário discorrer da importância da obra do escritor homenageado que tendo nascido em Porto Alegre, passou a infância em Guaíba e se radicou definitivamente em São Borja, onde permaneceu compondo seus versos, causos e letras musicais, que tanto enriqueceram nossa terra – querência e nação. Há de permanecer sempre por aqui onde exista alguém declamando poesias gauchescas de Cantigas do Tempo Velho ou as telúricas e românticas dos outros livros. Justa homenagem...
Poeta e cronista colaborador
Publicado em 31 de agosto de 2005 – no Diário de Canoas – RS.
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